São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2007

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Comentário

Redes vendem um padrão de paladar medíocre

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

A inda bem que há nesta página um crítico para avaliar "Nação Fast Food" como cinema. Atenho-me a falar, portanto, do "conteúdo", o assunto comida, começando por dizer que o filme permite (como todos) uma leitura anterior ao do tema (hambúrguer). Ou seja, pode estar falando não só da indústria da fast-food, mas do consumo de massa em geral.
As mazelas do hambúrguer de uma grande rede se assemelham às de uma grande indústria de pneus ou tênis: a produção em massa tende a maximizar o lucro às custas da qualidade ou de condições humanas de trabalho. Mas acho que o melhor local para mostrar isso não é uma ficção.
Até me cansa esta propaganda infantil contra o hambúrguer, que mostra cenas feias de bois estripados como se o consumo de carne fosse condenável ou fosse possível manter nossa atávica tradição carnívora sem abater a comida. A humanidade sempre estripou antigamente, com os próprios dentes, seu alimento. Não está aí o problema do hambúrguer.
Existe o problema ético de indústrias sem escrúpulos, claro. Mas há outro lado do problema que a indústria nos impõe. É de estética, é de gosto, é de bom gosto. Essas grandes redes nivelam por baixo o gosto médio americano (que já é baixíssimo). E exportam este padrão. Há tênis feitos por crianças exploradas, mas que têm qualidade. Já as redes de fast-food, com uma propaganda voltada para a vulnerabilidade infantil, impingem um padrão de paladar medíocre e difundem uma ideologia do mau gosto: ganhe um brinquedinho ridículo (um palhaço) e coma (como um palhaço) uma comidinha ridícula. Se é pra falar da nação do fast-food, faltou falar isso.


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