São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2007

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Crítica/"Exuberante Deserto"

Drama simplifica conflitos ao mostrar mudanças em kibutz

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

O olhar detalhista e afetivo na recriação do cotidiano em um kibutz, nos anos 70, sugere que "Exuberante Deserto" tenha buscado sua matéria-prima na experiência do diretor e roteirista Dror Shaul, 36.
De fato, ele viveu até os 22 anos no kibutz onde nasceu, no sul de Israel. Em 1974, quando a história do filme se passa, ele tinha apenas 3 anos, e não 12, como seu protagonista. A diferença talvez ajude a entender por que as emoções evocadas estão mais próximas da infância do que da adolescência.
Dvir (Tomer Steinhof) está no ano do bar mitzvah, que representa sua iniciação religiosa adulta. Órfão de pai, ele vive com a mãe (Ronit Yudkevitz) e o irmão mais velho (Pini Tabger) em um kibutz que se orgulha de ser progressivo, submetido ao poder supremo das decisões e de interesses coletivos.
A utopia comunitária de uns pode representar, no entanto, a prisão torturante de outros. É assim, ao menos, que se desenha a rotina de Dvir nessa fazenda cujas regras inflexíveis lhe parecem, muitas vezes, obscuras. Para esse menino em pleno rito de passagem, o comportamento adulto ainda está repleto de mistérios.
Boa parte do que ele não compreende ronda a mãe, de fragilidade psicológica incompreensível para o filho caçula. A dura reação da comunidade ao que ela pensa e faz também lhe parece desproporcional, incluindo o tratamento ao namorado suíço e não-judeu (Henri Garcin) que a visita no kibutz.

Desconectado
A sensação de isolamento do exterior, bem traduzida visualmente na espera pelo ônibus que mantém a fazenda conectada com o restante do planeta, também contribui para o desconforto de Dvir, que alterna situações leves e bem-humoradas com momentos mais densos e tristes.
As relações entre mãe e filho examinadas por Shaul poderiam se dar (e se dão, diariamente) em qualquer tempo e espaço. O desenvolvimento do roteiro no pragmático laboratório do Sundance Festival (onde o filme obteve um de seus diversos prêmios) tem a ver com a busca de abordagem universal para esse aspecto da trama.
As circunstâncias da história, no entanto, envolvem um mal disfarçado rancor por desvios do kibutz, com a vilanização de certos personagens e a conseqüente simplificação do que haveria ali de mais complexo: o impacto, sobre ideais comunitários, das práticas executadas em nome deles.


EXUBERANTE DESERTO
Direção: Dror Shaul
Produção: Israel, Alemanha e Japão, 2006
Com: Tomer Steinhof, Pini Tabger
Onde: em cartaz no Pátio Higienópolis e Reserva Cultural
Avaliação: regular



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