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Cinema/Estréias
Palmeira tenta espantar a crise com novo filme
Ator global diz reencontrar o orgulho do seu trabalho em "O Homem que Desafiou o Diabo", longa que estréia hoje
Depois de "se afastar da essência do que é o ator", Marcos Palmeira interpreta personagem cômico que considera "dificílimo"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O ator Marcos Palmeira encarna, a partir de hoje nas telas,
"O Homem que Desafiou o Diabo", adaptação do livro "As Pelejas de Ojuara", de Nei Leandro de Castro, que o produtor
do filme, Luiz Carlos Barreto,
situa "na tradição da comédia
picaresca nordestina".
Palmeira viu no convite para
protagonizar o novo longa de
Moacyr Góes a oportunidade
de espantar um demônio interior -o da crise profissional,
despertada "na virada dos 40".
Interpretando o galã de "Celebridade" (2003-2004), novela das oito escrita por Gilberto
Braga, o ator se percebeu como
"um canastrão de primeira,
profissional mesmo!".
É que, submetido à maior vitrine da teledramaturgia brasileira, o horário nobre da TV
Globo, o trabalho de Palmeira
andava agradando a audiência e
desagradando a ele mesmo.
"Ali, eu fui ao auge do que poderia me dar naquele momento
e me vi num vazio muito grande. Pensei: estou me dando para burro e nada me preenche.
Preciso me desconstruir."
Para a "desconstrução", freqüentou oficinas que auxiliam
os atores a se expressar apenas
com movimentos corporais. A
quem se habituou ao universo
palavroso das novelas, os exercícios soavam como um convite
para abandonar um vício.
"Você começa a fazer uma
novela atrás da outra e passa a
usar os seus recursos. Começa a
repetir um repertório, porque
você sabe que dá certo uma certa inflexão, um jeito, um olhar",
descreve Palmeira.
O resultado é que "você vai se
afastando da essência do que é
o ator", concluiu Palmeira,
quando se sentiu incapaz de
distinguir "onde entrava a inteligência do ator e onde estava
completamente envolvido pela
minha burrice como ator".
Foi nesse momento que o diretor de teatro e cinema
Moacyr Góes, amigo de Palmeira desde a infância, surgiu com
a proposta para que ele interpretasse "O Homem que Desafiou o Diabo".
"É um personagem supercomplexo, dificílimo. Era a minha oportunidade de me afastar do personagem para tentar
ser ele", ou seja, de pôr à prova
sua inteligência como ator, avaliou Palmeira.
Chacota
Ele começa o filme vivendo o
caixeiro-viajante José Araújo.
Boa-praça e mulherengo, após
uma aventura de uma noite,
Araújo acaba sendo obrigado a
casar-se com Dualiba (Lívia
Falcão), a filha do temido Turco (Renato Consorte).
Depois do casamento, ele
passa a ser explorado pelo sogro e humilhado pela mulher.
Quando descobre que é motivo
de chacota na cidade, Araújo dá
seu grito de independência
rompendo com todos, inclusive
com sua antiga identidade.
Ele mesmo se rebatiza Ojuara -o antigo nome, de trás para
a frente- e passa a viver como
um cavaleiro errante, enfrentando todos os adversários, ainda que seja o diabo encarnado.
Palmeira define Ojuara como
"um poeta da vida", alguém que
"encara a vida com o olhar da
poesia". Como "a poesia permite tudo", Ojuara termina sendo
um personagem que "não tem
preconceitos".
Quando se viu na telona como José Araújo/Ojuara, o ator
reencontrou uma velha sensação -o orgulho do próprio trabalho. "Fiquei feliz com o resultado. Gostei de me ver. Eu me
achei divertido, verdadeiro".
No mês que vem ele volta ao
teatro, ao lado de Adriana Esteves. Com direção de Amir Haddad, os dois encenarão os últimos momentos da vida de Lampião e Maria Bonita.
Em janeiro de 2008 ele filma
"Quase um Tango Argentino",
com Sérgio Silva, no Sul. E, antes disso, pretende ver chegar
aos cinemas outro filme em que
atua, "Largando o Escritório",
de Cláudio Torres ("Redentor").
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