São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2007

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Cinema/Estréias

Palmeira tenta espantar a crise com novo filme

Ator global diz reencontrar o orgulho do seu trabalho em "O Homem que Desafiou o Diabo", longa que estréia hoje

Depois de "se afastar da essência do que é o ator", Marcos Palmeira interpreta personagem cômico que considera "dificílimo"

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O ator Marcos Palmeira encarna, a partir de hoje nas telas, "O Homem que Desafiou o Diabo", adaptação do livro "As Pelejas de Ojuara", de Nei Leandro de Castro, que o produtor do filme, Luiz Carlos Barreto, situa "na tradição da comédia picaresca nordestina".
Palmeira viu no convite para protagonizar o novo longa de Moacyr Góes a oportunidade de espantar um demônio interior -o da crise profissional, despertada "na virada dos 40".
Interpretando o galã de "Celebridade" (2003-2004), novela das oito escrita por Gilberto Braga, o ator se percebeu como "um canastrão de primeira, profissional mesmo!".
É que, submetido à maior vitrine da teledramaturgia brasileira, o horário nobre da TV Globo, o trabalho de Palmeira andava agradando a audiência e desagradando a ele mesmo.
"Ali, eu fui ao auge do que poderia me dar naquele momento e me vi num vazio muito grande. Pensei: estou me dando para burro e nada me preenche. Preciso me desconstruir."
Para a "desconstrução", freqüentou oficinas que auxiliam os atores a se expressar apenas com movimentos corporais. A quem se habituou ao universo palavroso das novelas, os exercícios soavam como um convite para abandonar um vício.
"Você começa a fazer uma novela atrás da outra e passa a usar os seus recursos. Começa a repetir um repertório, porque você sabe que dá certo uma certa inflexão, um jeito, um olhar", descreve Palmeira.
O resultado é que "você vai se afastando da essência do que é o ator", concluiu Palmeira, quando se sentiu incapaz de distinguir "onde entrava a inteligência do ator e onde estava completamente envolvido pela minha burrice como ator".
Foi nesse momento que o diretor de teatro e cinema Moacyr Góes, amigo de Palmeira desde a infância, surgiu com a proposta para que ele interpretasse "O Homem que Desafiou o Diabo".
"É um personagem supercomplexo, dificílimo. Era a minha oportunidade de me afastar do personagem para tentar ser ele", ou seja, de pôr à prova sua inteligência como ator, avaliou Palmeira.

Chacota
Ele começa o filme vivendo o caixeiro-viajante José Araújo. Boa-praça e mulherengo, após uma aventura de uma noite, Araújo acaba sendo obrigado a casar-se com Dualiba (Lívia Falcão), a filha do temido Turco (Renato Consorte).
Depois do casamento, ele passa a ser explorado pelo sogro e humilhado pela mulher. Quando descobre que é motivo de chacota na cidade, Araújo dá seu grito de independência rompendo com todos, inclusive com sua antiga identidade.
Ele mesmo se rebatiza Ojuara -o antigo nome, de trás para a frente- e passa a viver como um cavaleiro errante, enfrentando todos os adversários, ainda que seja o diabo encarnado.
Palmeira define Ojuara como "um poeta da vida", alguém que "encara a vida com o olhar da poesia". Como "a poesia permite tudo", Ojuara termina sendo um personagem que "não tem preconceitos".
Quando se viu na telona como José Araújo/Ojuara, o ator reencontrou uma velha sensação -o orgulho do próprio trabalho. "Fiquei feliz com o resultado. Gostei de me ver. Eu me achei divertido, verdadeiro".
No mês que vem ele volta ao teatro, ao lado de Adriana Esteves. Com direção de Amir Haddad, os dois encenarão os últimos momentos da vida de Lampião e Maria Bonita.
Em janeiro de 2008 ele filma "Quase um Tango Argentino", com Sérgio Silva, no Sul. E, antes disso, pretende ver chegar aos cinemas outro filme em que atua, "Largando o Escritório", de Cláudio Torres ("Redentor").


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