São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2007

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO (em Milão) - ultima.moda@folha.com.br

Fantasia romântica em Milão

Desfiles da temporada italiana trazem feminilidade mais dócil e descontraída

Uma atmosfera de evasão, de fantasia e de sentimentalismo jovial dominou os primeiros dias da semana de moda de Milão, que começou no último sábado e termina amanhã. É a volta da onda "romântica", na terminologia dos fashionistas, o que significa o retorno aos signos de uma feminilidade mais adocicada e frágil, mas, no caso de Milão, livre e descontraída -depois de ao menos duas estações em que os estilistas pareciam buscar novas imagens para as mulheres, mais firmes, recorrendo até a experimentações futuristas.
O romantismo para o verão 2008, na perspectiva milanesa, vem com formas vaporosas, transparências, evocações dos anos 70 (pantalonas e vestidões neohippies), contrastes entre tons neutros e cores berrantes (o laranja, sobretudo), trajes soltos e confortáveis e a velha obsessão com os temas florais.
É um terreno mais seguro comercialmente e que, além disso, impregnou a fashion week de glamour, como se o essencial fosse deixar as mulheres lindas, e não usá-las como cobaias.
Giorgio Armani, com uma coleção impecável, evocou o Sul da Itália e o mundo mediterrâneo, vestindo suas modelos com foulards e lenços inspirados em redes de pesca, mas cravejados de cristais.
Calças à altura dos joelhos, amarradas com nós nas pernas, foram sua principal ousadia e lembravam o traje de pescadores ou das catadoras de arroz no filme "Arroz Amargo", de Dino Risi (1949). "Por que as mulheres que têm pernas perfeitas não usariam calças como essas?", declarou o estilista, abusado, após o desfile, que teve a presença do diretor Spike Lee.
A D&G foi muito feliz na sua coleção, sobretudo nos jeans e nos looks hippie-chiques, com feéricas estampas florais montadas em sobreposições de tecidos e patchworks.
Viagens inspiraram a Just Cavalli, que foi buscar na África as fontes para o seu frisson sensualista, e a Gianfranco Ferré, que mostrou a última coleção (elegante, mas um tanto austera) desenhada pelo estilista, morto em junho deste ano. O sueco Lars Nilsson será o novo diretor de criação da marca.
A Burberry e a Marni foram das poucas grifes que resistiram um pouco à investida romântica. O estilista Christopher Bailey, da primeira, optou por uma imagem feminina forte, em que explorou as formas do trench-coat e ícones militares para dar vigor ao look e solidez às peças -todas em tecidos muito leves, como o chiffon.
Inspirada e atenta à atitude contemporânea, Consuelo Castiglione, da Marni, contrabalançou as demandas sentimentais da hora com seu modernismo construtivo, a exploração de geometrias e contrastes entre tecidos, texturas e volumes.
A Jil Sander investiu em novas silhuetas, bela paleta de cores e transparências que quebraram a sua usual severidade minimalista. A Prada também embarcou um pouco no romantismo, em versão noturna e onírica, com uma coleção fascinante e extravagante. Estas duas grifes são as que respondem, em Milão, às pretensões artísticas do mundo da moda. Mas basta visitar a Bienal de Veneza, atualmente em cartaz, para constatar como a moda está distante das preocupações da arte contemporânea -o que talvez seja melhor para as mulheres de todo o mundo.


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