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Última Moda
ALCINO LEITE NETO (em Milão) - ultima.moda@folha.com.br
Fantasia romântica em Milão
Desfiles da temporada italiana trazem feminilidade mais dócil e descontraída
Uma atmosfera de evasão, de
fantasia e de sentimentalismo
jovial dominou os primeiros
dias da semana de moda de Milão, que começou no último sábado e termina amanhã. É a
volta da onda "romântica", na
terminologia dos fashionistas,
o que significa o retorno aos
signos de uma feminilidade
mais adocicada e frágil, mas, no
caso de Milão, livre e descontraída -depois de ao menos
duas estações em que os estilistas pareciam buscar novas imagens para as mulheres, mais firmes, recorrendo até a experimentações futuristas.
O romantismo para o verão
2008, na perspectiva milanesa,
vem com formas vaporosas,
transparências, evocações dos
anos 70 (pantalonas e vestidões
neohippies), contrastes entre
tons neutros e cores berrantes
(o laranja, sobretudo), trajes
soltos e confortáveis e a velha
obsessão com os temas florais.
É um terreno mais seguro comercialmente e que, além disso, impregnou a fashion week
de glamour, como se o essencial
fosse deixar as mulheres lindas,
e não usá-las como cobaias.
Giorgio Armani, com uma
coleção impecável, evocou o
Sul da Itália e o mundo mediterrâneo, vestindo suas modelos com foulards e lenços inspirados em redes de pesca, mas
cravejados de cristais.
Calças à altura dos joelhos,
amarradas com nós nas pernas,
foram sua principal ousadia e
lembravam o traje de pescadores ou das catadoras de arroz no
filme "Arroz Amargo", de Dino
Risi (1949). "Por que as mulheres que têm pernas perfeitas
não usariam calças como essas?", declarou o estilista, abusado, após o desfile, que teve a
presença do diretor Spike Lee.
A D&G foi muito feliz na sua
coleção, sobretudo nos jeans e
nos looks hippie-chiques, com
feéricas estampas florais montadas em sobreposições de tecidos e patchworks.
Viagens inspiraram a Just
Cavalli, que foi buscar na África
as fontes para o seu frisson sensualista, e a Gianfranco Ferré,
que mostrou a última coleção
(elegante, mas um tanto austera) desenhada pelo estilista,
morto em junho deste ano. O
sueco Lars Nilsson será o novo
diretor de criação da marca.
A Burberry e a Marni foram
das poucas grifes que resistiram um pouco à investida romântica. O estilista Christopher Bailey, da primeira, optou
por uma imagem feminina forte, em que explorou as formas
do trench-coat e ícones militares para dar vigor ao look e solidez às peças -todas em tecidos
muito leves, como o chiffon.
Inspirada e atenta à atitude
contemporânea, Consuelo Castiglione, da Marni, contrabalançou as demandas sentimentais da hora com seu modernismo construtivo, a exploração
de geometrias e contrastes entre tecidos, texturas e volumes.
A Jil Sander investiu em novas silhuetas, bela paleta de cores e transparências que quebraram a sua usual severidade
minimalista. A Prada também
embarcou um pouco no romantismo, em versão noturna
e onírica, com uma coleção fascinante e extravagante. Estas
duas grifes são as que respondem, em Milão, às pretensões
artísticas do mundo da moda.
Mas basta visitar a Bienal de
Veneza, atualmente em cartaz,
para constatar como a moda está distante das preocupações da
arte contemporânea -o que
talvez seja melhor para as mulheres de todo o mundo.
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