São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 2011

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À sombra de Miles

Quando morreu, há exatos 20 anos, Miles Davis deixou um buraco no jazz, que nunca mais seria tão reinventado, numa lacuna que uma nova geração de músicos tenta preencher

CARLOS MESSIAS
WILLIAM MUR

DE SÃO PAULO

Em 28 de setembro de 1991, morria aos 65 anos -em decorrência de infarto, pneumonia e problemas respiratórios- o trompetista americano Miles Davis.
A trajetória do músico coincide com a evolução do jazz. Após surgir em meio à febre do bebop, nos anos 40, o músico foi um dos responsáveis pelo chamado cool jazz e protagonizou o surgimento de estilos como hard bop, modal, fusion e jazz rap. Suas bandas de apoio se tornaram míticas, revelando nomes como John Coltrane e Bill Evans, além de Sonny Rollins, Wayne Shorter e Branford Marsalis, que permanecem na ativa.
Diante dos que dizem que, após a morte de Miles, o gênero teria estagnado, deixando de dialogar com as tendências em voga, o meio reage.
"As pessoas tratam o jazz como se ele tivesse morrido e tivesse de ser homenageado", diz o pianista Robert Glasper em entrevista à Folha.
"Hoje em dia, a maioria dos artistas vive à sombra de Miles Davis. Estamos em uma batalha na qual precisamos superar isso", desabafa. Felizmente, lampejos de luminosidade se anunciam no horizonte dominado pelo Príncipe das Trevas -como era apelidado Miles Davis. Uma nova geração de jazzistas consegue se equiparar tecnicamente aos cânones e procura seguir seus passos transgressores.
Glasper funde com brilhantismo a estrutura do jazz e a textura do hip-hop. Tanto que já gravou com Kanye West e Mos Def, entre outros.
Outro sucessor é o trompetista Christian Scott. Seu estilo é classificado como neo-fusion e suas referências vão da dupla de hip-hop Madvillain à nova musa do indie rock, St. Vincent.
"Muitos jazzistas da minha geração ainda estão no passado. Procuro conhecer outros estilos para descobrir novas texturas", explica Scott.
Para ele, o grande legado de Miles Davis foi sua capacidade de se comunicar com o público da época. "É isso o que falta à maioria dos músicos que surgiram depois dele, que agem como se estivessem num pedestal", critica.


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