|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Indianos querem "procissão"
VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha
Roupas puídas, rostos expressivos e instrumentos rudimentares
são características dos músicos
indianos que remetem à figura do
homem nordestino brasileiro recolhido em seu canto, em sua arte.
Mas a identificação com a Fanfarra de Bijapur, uma das atrações de
hoje no 8º Fiac, pode ser maior do
que se imagina.
O grupo de Bijapur, cidade ao
norte da Índia, foi criado há 40
anos. Sua origem está nas festividades e crenças populares praticadas naquela região pelas castas
menos favorecidas -eles incluídos. Daí os convites frequentes
para cerimônias como casamentos, batismos e aniversários.
No Fiac, a fanfarra vai abrir os
espetáculos de outras atracões
-hoje se apresentam antes do
concerto dos Músicos do Nilo.
Segundo o diretor do conjunto,
Sundar Rao, 60, não existe um roteiro definido. Tudo depende da
relação com o público. Mas é certo que serão interpretadas canções populares do norte -"mindoustany"- e do sul -"carnatic"- da Índia.
Também não faltarão incidências do "raga", a base da música
clássica indiana. O sopro e a percussão ganham relevo com instrumentos como o "shanai"
(equivalente ao trompete), o "suti" (espécie de corneta alongada)
e a "tasha" (caixa de tambor).
Rao desconhece qualquer referência sobre a música brasileira.
Mesmo assim, espera cativar o
público e não descarta puxar uma
"procissão", como acontece nas
apresentações que percorrem as
ruas de Bijapur.
Anteontem, na visita de reconhecimento ao Sesc Belenzinho, o
diretor observou que as paredes
labirínticas do espaço escondiam
o teto celestial das apresentações
ao ar livre.
"Para nós, a música é uma forma de orar a Deus, de expressar
nossa espiritualidade".
Músicos do Nilo
Criado em 1975, pelo então diretor artístico Alain Weber, o
conjunto Músicos do Nilo vem divulgando a chamada "música
árabe" desde antes da onda world
music.
Eles foram "descobertos" em 93
pela Europa, quando apresentaram-se no World of Music Art
and Dance. Também ganharam
promoção participando do filme
"Latcho Drom", de Tony Gatlif,
que retrata a viagem dos ciganos
desde a Índia até a Espanha.
Entre os músicos tradicionais
que pertencem ao conjunto, da
região do Alto Egito, estão os remanescentes do clã Mudgaqali,
como Metqâli Qenâwi e Muhammed Murâd Mejâli.
Na apresentação de hoje, eles
interpretam canções de domínio
público e também dançam o "baladi", outra coreografia popular
na cultura egípcia.
Texto Anterior: FIAC: Estrela da dança espanhola se exibe em SP Próximo Texto: Contardo Calligaris: Virilidade em crise Índice
|