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"OSAMA"
Afegão evidencia contradições de um regime de deturpações
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
"Osama" acaba de ganhar o
principal prêmio do Festival de Cinema de Montreal. O filme já tinha emocionado neste
ano platéias do Festival de Cannes
e da mostra do Rio. E ainda há
chances de assisti-lo hoje, às 14h,
no Cinesesc.
Nele, o dilema das mulheres afegãs durante o regime Taleban,
que as proibia de trabalhar, estudar, conversar com estranhos,
exibir qualquer parte do corpo
em público, regras de um regime
radical que beira à insanidade aos
olhos do mundo moderno.
"Osama", direção e roteiro de
Sedigh Barmak, é considerada a
primeira produção do Afeganistão após a guerra e o regime deposto. Uma garota de 12 anos tem
os cabelos cortados e é obrigada a
se vestir de menino para ajudar a
família só de mulheres.
Ele remete a um só pensamento:
a história não acabou, e o homem
está longe de encontrar sua utopia, especialmente numa Cabul
destroçada por décadas de guerras em que patrulhas perseguem
inimigos do sistema, estrangeiros
ou mulheres trabalhando. Uma
manifestação indica: elas passam
fome. Muitas delas, viúvas, nem
podem mendigar. Traça-se um
enredo baseado numa linha, simplicidade herdada pela lógica muçulmana: a fome leva uma mãe a
trair sua filha, cortar seus cabelos
e vesti-la como um menino.
A pequena acaba sendo arrastada para uma escola de meninos,
cuja única aula em sala é a leitura
fanática do Alcorão. Aparentemente, a escola é patrocinada pelo
líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, nome que virou uma febre
no período. É uma escola também
para treinamento militar.
Um menino de rua sabe da farsa
e é quem a apelida de Osama. Mas
sua beleza a trai. Um velho Mullah
"o" chama de ninfa, encanta-se,
até ela ser descoberta quando escorre sangue pelas pernas. Sua
punição é uma monstruosidade:
o público demora a entendê-la.
Cenas como a prisão de mulheres, a execução sumária de um
jornalista e o apedrejamento de
uma mulher evidenciam as contradições de um regime escrito
pelas tintas das deturpações. O
perigo é passarmos a aceitar a intervenção norte-americana.
Osama
Osama
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