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Crítica/Política
Obra tenta entender ação política de evangélicos
OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A redução pela metade da
bancada evangélica no
Congresso, para 30 deputados, em decorrência do envolvimento de pastores parlamentares em escândalos, poderia desqualificar um livro sobre
a maior participação dos pentecostais na política. Não é esse,
porém, o caso de "Política e Religião", de Maria das Dores
Campos Machado, do Instituto
Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro.
Para começar, o fiasco não
surpreendeu a autora, cujo estudo sobre o desempenho dos
legisladores evangélicos fluminenses entre 2000 e 2005 leva
em conta o revés eleitoral anterior, de 2004, quando o número
de vereadores ligados à Igreja
Universal do Reino de Deus,
por exemplo, caiu de 360 para
70 no Brasil. E, de qualquer maneira, embora a atuação de pastores congressistas fosse a crônica da derrota anunciada, não
é esse o recorte da socióloga.
Ela está mais interessada em
discutir a reação de intelectuais
diante da aparição dos pentecostais na arena política a partir dos anos 80. De saída, coloca
em xeque a interpretação, comum entre cientistas políticos,
de que tal tendência representa
retrocesso na secularização
desse aspecto da vida social.
Retrocesso por quê?, se a
Igreja Católica sempre atuou
de maneira a tornar difusa a linha demarcatória entre religião e política. Levando-se em
conta a perspectiva histórica,
seria equivocado identificar no
passado recente a emergência
do fenômeno religioso na política. O que houve foi a ampliação da área sobreposta dessas
esferas, algo que não pode ser
entendido, segundo a autora,
sem o abandono do "viés ideológico que caracteriza como ilegítima toda e qualquer atuação
pública das religiões".
Pragmatismo
No lugar de ideologias, ela
põe fatos: o que importa é verificar como, pela via política, os
pentecostais se articulam com
a sociedade. E o que vem à tona
com a investigação é que a chamada bancada evangélica
transformou-se num grupo
bem menos monolítico do que
a denominação sugere.
A defesa em bloco do ponto
de vista conservador e tradicional é coisa do passado. Hoje, fala mais alto o pragmatismo que
vai ao encontro dos interesses
assistencialistas que estão na
base da ação voltada a um universo de fiéis, em geral de baixa
renda e instrução.
É esse pragmatismo que explica a adesão ao governo, a troca freqüente de partido e as divergências em questões centrais, como a Lei de Biossegurança. O relato da aprovação
dessa lei, aliás, é um dos pontos
altos do livro.
A autora descreve um culto
no Congresso em que o projeto,
que permite pesquisa com célula-tronco, é associado a
"ações demoníacas" pouco antes de muitos evangélicos, sob
influência do Planalto, votarem
a favor. Se o estatuto da religião
no mundo moderno tem suas
complexidades, o livro tem o
mérito de enfrentá-las sem
preconceito.
OSCAR PILAGALLO é jornalista, editor da revista "EntreLivros" e autor de "A História do Brasil no Século 20" (em cinco volumes, pela Publifolha)
POLÍTICA E RELIGIÃO - A PARTICIPAÇÃO DOS EVANGÉLICOS NAS ELEIÇÕES
Autor: Maria das Dores Campos Machado
Editora: FGV
Quanto: R$ 25 (179 págs.)
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