Renault mantém verve pop em "Moko no Brasil"

IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN

Em seu segundo romance, "Moko no Brasil", o diretor de teatro, ópera, TV e desfiles de moda Alberto Renault segue a linha que já marcava seu livro de estréia, "A Foto" (Objetiva, 2003), ao compor uma espécie de caleidoscópio pop no qual os personagens transitam e se sobrepõem.
Em "Moko", eles se sobrepõem literalmente, aliás, já que o coração do livro é o "quadrado amoroso" formado por LP, Tê, Moko e Ryû, a saber: LP é homem, um ex-modelo; Tê é modelo mulher; Moko é mulher, uma japonesa "fashion victim" e Ryû é seu irmão adolescente japonês.
Em volta deles circula ainda uma série de figuras, incluindo o narrador em primeira pessoa, homossexual que mora em Paris e está apaixonado por F., um fotógrafo desencanado.
Pulando de uma cidade à outra, Renault vai traçando o encontro de toda a galera num Rio de Janeiro de praias e baladas noturnas. É um Rio para turista ver e diversos personagens seguem essa linha esperada: o japonês adolescente é designer de games, a modelo que foi morar no Japão se casa com um integrante da máfia nipônica, a mãe de Tê é uma perua paulistana, LP e F. são garotões de praia, a prostituta que fica arrependida após o filho pequeno sofrer um acidente e por aí vai.
Mas dessa fauna não muito original, Renault extrai situações e pensamentos divertidos e criativos. A descrição de uma festa de aniversário infantil, por exemplo, reúne elementos globais, "como se tudo o que fosse importante no Brasil e no Japão estivesse ali...", nota o antropólogo Hermano Vianna no prefácio.
Renault utiliza de forma surpreendente o recurso das notas de rodapé, que, muitas vezes, além de explicar um conceito pós-moderno ou a obra de um artista badalado, se transforma novamente no texto do livro, e por ali o leitor segue.
"Moko no Brasil" é um retrato instantâneo do mundo globalizado, do jovem cujo único país que interessa é o da internet, da moda como modo legítimo de felicidade e do sexo sem fronteiras de gênero, número e grau.

MOKO NO BRASIL    
Autor: Alberto Renault
Editora: Aeroplano
Quanto: R$ 32 (152 págs.)