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O montador de histórias
Indicado ao Oscar em 2004 pela montagem de "Cidade de Deus", Daniel Rezende, 32, retoma a parceria com Fernando Meirelles em "Cegueira", após o trabalho com José Padilha em "Tropa de Elite'
Ex-montador de filmes publicitários, Rezende editou para a TV as séries "Cidade dos Homens" e "Filhos do Carnaval"
BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Logo que estreou no cinema,
com "Cidade de Deus", Daniel
Rezende, 32, venceu o Bafta de
2003, prêmio britânico do cinema, e foi indicado ao Oscar
em 2004 pela montagem do
longa. Hoje, ele é um dos grandes denominadores comuns do
cinema nacional, em cartaz
com "Tropa de Elite", "Cidade
dos Homens" e "O Ano em que
Meus Pais Saíram de Férias" .
O papel de Rezende -nesses
e em outros filmes- é o de selecionar as melhores cenas e organizá-las, ajudando a construir a narrativa. "Um filme
bem montado é coerente com a
história que está contando. O
espectador não pode perceber
os cortes e, em nenhum momento, olhar no relógio", diz.
Rezende começou há 11 anos
na produtora O2 como estagiário de produção. Dali chegou à
sala de pós-produção dos comerciais de Fernando Meirelles. Cinco anos depois, veio o
convite do cineasta para que ele
editasse "Cidade de Deus".
"Eu não tinha idéia da complexidade que é montar um
longa. Não havia editado nem
curta-metragem", conta. Também não ajudou a produção ter
sido filmada praticamente com
não-atores ou quase sem marcação. "Não havia take igual, o
texto era sempre diferente, os
atores nunca estavam nos mesmos lugares." A saída foi editar
o filme de maneira instintiva.
Os prêmios vieram e convites
começaram a chegar.
"Alguns filmes eu quis fazer e
não aconteceram, como o "Supremacia Bourne", outros não
eram interessantes. Editar uma
comédia romântica pela grana
não me interessa", afirma.
Rezende, que tem um agente
fora do Brasil só para cuidar de
seus projetos internacionais,
também excursionou pela TV.
É dele a montagem de "Filhos
do Carnaval" e de alguns episódios de "Cidade dos Homens".
Antes de ser indicado ao Oscar, vieram os convites de Eliane Caffé para editar "Narradores de Javé" e Walter Salles para "Diários de Motocicleta",
ambos por indicação de Meirelles. A transição da edição marcada por cortes e pelo ritmo
frenético de "Cidade de Deus"
para o drama e a comédia centrada no trabalho de atores dos
dois longas foi tranqüila, conta.
"As experiências se somam.
Quando fiz "Água Negra", vi alguns filmes de terror que serviram de referência para o Walter Salles, mas o que vai dizer ao
editor como montar o filme é o
próprio material." É só depois
do primeiro corte, no entanto,
que o montador tem noção se o
filme será mais lento ou rápido,
se a atriz principal precisa parecer mais tensa ou assustada.
"Uma das grandes bases da
montagem é a relação entre diretor e montador. Quando há
uma boa relação, fica muito
mais fácil."
"Tropa de Elite"
A montagem de "Tropa de
Elite" foi uma das mais complexas. "Mudamos o narrador do
filme durante a edição, o que
muda o olhar sobre o filme."
Quando as filmagens começaram, a intenção era a de que a
história fosse contada por Matias (André Ramiro). Várias cenas tiveram de ser alteradas e
outras foram derrubadas quando foi feita a opção pela narração do capitão Nascimento
(Wagner Moura).
Rezende hoje trabalha na
montagem de "Cegueira", seu
segundo filme com Meirelles.
"É um filme muito corajoso e
uma montagem bastante complicada. Nos 20 minutos iniciais, as pessoas começam a ficar cegas e depois de meia hora
apenas uma personagem enxerga. É fácil virar um filme de
zumbi. Como costurar essa história eu ainda não sei", admite.
"O Fernando quer desconstruir a montagem. Como cego
não tem senso de eixo, ele filma
enquadramentos em que a cena acontece de um lado e a câmera registra outro para que o
espectador só entenda o que está acontecendo pelo som. O
quanto isso funciona na prática
a gente vai descobrir durante o
processo", diz Rezende, diante
de mais um desafio.
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