São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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Zé Celso vê "tropicapitalismo" na celebração

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Hélio Oiticica e Glauber Rocha não estão mais aqui, mas há José Celso Martinez Corrêa como prova viva de que o tropicalismo não foi só música. O diretor, que estreou em setembro de 1967 "O Rei da Vela", principal espetáculo teatral do movimento, protestou na semana passada contra a redução do que se fez há 40 anos às composições de Caetano e Gil.
Ele participou, na quarta-feira, com o cineasta Julio Bressane, da mesa "Tropicalismo e Underground na Virada da Década", no Centro Cultural Banco do Brasil carioca. Classificou de "tropicapitalismo" a comemoração do movimento, exemplificando com a decoração de Salvador no último Carnaval.
"Era uma coisa horrenda. [O tropicalismo] virou um produto comercial de quinta categoria. Ficam só nos cantores. Os cantores são ótimos, mas a divulgação é péssima. Ficou uma visão mercenária, nada a ver com o sentimento que a gente tinha na época", afirmou.
Segundo ele, os tropicalistas já se queixavam da redução de suas idéias a um monte de cores e frutas. "Ninguém agüentava mais tanta banana, tanto coqueiro", contou, lamentando que essa visão ainda seja forte.
Para o diretor, o mais importante de "O Rei da Vela" foi ter posto a idéia da antropofagia no centro das discussões culturais. Oswald de Andrade, autor do "Manifesto Antropofágico" e da peça, embasou uma das idéias principais do tropicalismo: é possível absorver qualquer referência e transformá-la em algo original, brasileiro sem ser xenófobo.
"Oswald não era como Dias Gomes ou [Gianfrancesco] Guarnieri, que usavam uma peça para contar outra história [política]. Oswald era mântrico", disse Zé Celso, antes de imitar Oswald, num dos muitos números que realizou no CCBB -também se deitou na mesa e mostrou um pouco de maconha que tinha no bolso.

Discordando de Gil
Outro debate, batizado de "Tropicalismo: Uma Análise 40 Anos Depois", foi realizado na terça, no Centro Universitário Maria Antonia, em São Paulo, reunindo o jornalista Carlos Calado e o arquiteto Guilherme Wisnik, respectivamente colaborador e colunista da Folha.
A conversa aconteceu após a exibição do documentário "A Revolução Tropicalista", dos franceses Ives Billon e Dominique Dreyfus. No filme, Gilberto Gil afirma que o movimento, ao contrário da bossa nova, não deixou como legado nenhuma forma musical.
Calado discordou, pois o tropicalismo surgiu num contexto de "contrariedade à canção de protesto" e foi uma reação à separação entre o que era válido e o que não era na música brasileira. Outros artistas usufruíram, mais tarde, da liberdade estética pregada pelo movimento.
Wisnik expandiu a discussão para outras artes, ressaltando que, em todas as expressões, a carta de intenções dos artistas envolvia a mistura "do popular com o internacional" e estava ligada ao "desrecalque do corpo" e à participação do público. Para Wisnik, o tropicalismo foi o "avesso da bossa nova", um contraponto ao otimismo do Brasil desenvolvimentista.


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