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Zé Celso vê "tropicapitalismo" na celebração
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Hélio Oiticica e Glauber Rocha não estão mais aqui, mas há
José Celso Martinez Corrêa como prova viva de que o tropicalismo não foi só música. O diretor, que estreou em setembro
de 1967 "O Rei da Vela", principal espetáculo teatral do movimento, protestou na semana
passada contra a redução do
que se fez há 40 anos às composições de Caetano e Gil.
Ele participou, na quarta-feira, com o cineasta Julio Bressane, da mesa "Tropicalismo e
Underground na Virada da Década", no Centro Cultural Banco do Brasil carioca. Classificou
de "tropicapitalismo" a comemoração do movimento, exemplificando com a decoração de
Salvador no último Carnaval.
"Era uma coisa horrenda. [O
tropicalismo] virou um produto comercial de quinta categoria. Ficam só nos cantores. Os
cantores são ótimos, mas a divulgação é péssima. Ficou uma
visão mercenária, nada a ver
com o sentimento que a gente
tinha na época", afirmou.
Segundo ele, os tropicalistas
já se queixavam da redução de
suas idéias a um monte de cores
e frutas. "Ninguém agüentava
mais tanta banana, tanto coqueiro", contou, lamentando
que essa visão ainda seja forte.
Para o diretor, o mais importante de "O Rei da Vela" foi ter
posto a idéia da antropofagia no
centro das discussões culturais.
Oswald de Andrade, autor do
"Manifesto Antropofágico" e
da peça, embasou uma das
idéias principais do tropicalismo: é possível absorver qualquer referência e transformá-la
em algo original, brasileiro sem
ser xenófobo.
"Oswald não era como Dias
Gomes ou [Gianfrancesco]
Guarnieri, que usavam uma peça para contar outra história
[política]. Oswald era mântrico", disse Zé Celso, antes de
imitar Oswald, num dos muitos
números que realizou no CCBB
-também se deitou na mesa e
mostrou um pouco de maconha que tinha no bolso.
Discordando de Gil
Outro debate, batizado de
"Tropicalismo: Uma Análise 40
Anos Depois", foi realizado na
terça, no Centro Universitário
Maria Antonia, em São Paulo,
reunindo o jornalista Carlos
Calado e o arquiteto Guilherme
Wisnik, respectivamente colaborador e colunista da Folha.
A conversa aconteceu após a
exibição do documentário "A
Revolução Tropicalista", dos
franceses Ives Billon e Dominique Dreyfus. No filme, Gilberto
Gil afirma que o movimento, ao
contrário da bossa nova, não
deixou como legado nenhuma
forma musical.
Calado discordou, pois o tropicalismo surgiu num contexto
de "contrariedade à canção de
protesto" e foi uma reação à
separação entre o que era
válido e o que não era na música brasileira. Outros artistas
usufruíram, mais tarde, da liberdade estética pregada pelo
movimento.
Wisnik expandiu a discussão
para outras artes, ressaltando
que, em todas as expressões, a
carta de intenções dos artistas
envolvia a mistura "do popular
com o internacional" e estava
ligada ao "desrecalque do corpo" e à participação do público.
Para Wisnik, o tropicalismo foi
o "avesso da bossa nova", um
contraponto ao otimismo do
Brasil desenvolvimentista.
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