São Paulo, domingo, 28 de outubro de 2007

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Chet Baker é tema da Coleção Folha do próximo domingo

Glória e desgraça marcaram vida de astro que gravou "My Funny Valentine"

DA REPORTAGEM LOCAL

Um trompete suave, vocais sussurrados e doses cavalares de heroína foi a mistura explosiva que fez a glória e a desgraça de Chet Baker, tema, no domingo que vem, do volume 7 da Coleção Folha Clássicos do Jazz.
Filho de um guitarrista profissional, Chesney Henry Baker Jr. (1929-1988) cresceu em um ambiente musical: começou cantando em um coro de igreja, e "estourou" em 1952, quando, já tocando trompete, entrou para o quarteto do saxofonista Gerry Mulligan, fazendo a primeira gravação do que seria sua marca registrada: "My Funny Valentine", de Rodgers e Hart.
Tornou-se lugar-comum comparar os brancos Baker e Mulligan com as proezas de seus contemporâneos, os gigantes negros do bebop (Charlie Parker, no saxofone, e Dizzy Gillespie, no trompete). Enquanto Parker e Gillespie favoreciam o uníssono, Mulligan e Baker tocavam em contraponto, com solos que dialogavam e se entrelaçavam.
Além disso, ao universo de improvisação intelectualizada e agressiva do bebop, que vicejava na costa leste dos EUA, eles opunham um estilo mais suave, cantável, lírico e "acessível". Estava fundado o cool jazz.
O mesmo jeito doce de entoar as melodias ao instrumento, Baker empregava como cantor. No limite entre a declamação, o canto e o sussurro, seu estilo vocal é tido como uma das influências da bossa nova.
Logo a heroína faria seu estrago no astro. Sucederam-se episódios de prisão e deportação na Itália, Alemanha e Inglaterra até que, em 1966, ele começou a ter que se apresentar de dentadura, pois sua boca estava literalmente arrebentada -para uns, em decorrência de uma briga por drogas, em San Francisco; para outros, a tal briga jamais existiu, e a deterioração da saúde bucal do musicista foi efeito de seu vício.
Baker, então, se dedicou a um repertório pouco exigente tecnicamente, e no limite da música francamente comercial, "de elevador". Adaptado finalmente à dentadura, ele voltou ao jazz em 1974, conquistando de vez o público europeu.
Baker já vivia mais na Europa que nos EUA quando, em 1988, foi encontrado morto na rua, embaixo de seu quarto de hotel em Amsterdã, em um incidente até hoje nebuloso. Em uma queda de janela, acidental ou provocada, o jazz perdia sua voz mais delicada.


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