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BIA ABRAMO
Novela dos mutantes afunda na confusão
"Caminhos do Coração" combina policiais, cientistas loucos e artistas de circo
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SE A Record quer ganhar audiência com outras armas além das
bravatas e da propaganda, é
melhor se apressar para salvar "Caminhos do Coração". A boa idéia de
fazer uma novela com apelo juvenil e
distante da matriz melodramática
corre o risco de afundar numa confusão sem precedentes.
"Caminhos do Coração" combina
crianças e adolescentes mutantes,
policiais corruptos e incorruptos,
cientistas loucos, artistas de circo de
passado misterioso, executivos implacáveis, malfeitores trapalhões,
gays dentro e fora do armário... O
que essa gente toda está fazendo numa mesma novela, não se sabe muito bem -para tecer uma trama que
fizesse um mínimo de sentido com
tantas possibilidades, era preciso
um gênio de Holywood ou um roteirista completamente anárquico; a
novela, entretanto, não tem nem
uma coisa nem outra.
Os personagens estapafúrdios, ao
menos, podem ficar engraçados segundo o grau de canastrice de seus
atores. Os casos de canastrice involuntária, em geral, resultam melhor,
como a vilã de Preta Gil, o rico folgado de André de Biasi, o policial mauricinho de Leonardo Vieira.
Mas é nos diálogos que a coisa pega mesmo. Merchandising constrangedor (uma cena inteira a serviço de uma marca de margarina),
conversas em que os personagens
repetem uma, duas ou três vezes a
mesma frase (quase que palavra por
palavra) e explicações científicas ultra-simplificadoras estão entre alguns dos exemplos colhidos de forma mais ou menos aleatória.
Parece que impera uma atitude
"para quem é, bacalhau basta", expressão antiga (do tempo em que bacalhau era comida de pobre) que significa que qualquer coisa está bom
para aquele considerados inferiores,
de alguma forma. E se há um grupo
que é sistematicamente tratado como menos exigente, que topa qualquer negócio, que só merece aquilo
que, nos gabinetes das emissoras, se
imagina que seja do seu gosto, este
grupo é o público de TV.
É só pegar carona no sucesso de
"Heroes" (que, apesar da competência pop dos seriados americanos, é
também incrivelmente canastrona),
temperar com efeitos, aproveitar as
partes mais aventurescas da experiência bem-sucedida de "Vidas
Opostas", juntar umas cenas de sexo
completamente descoladas da qualquer lógica na trama e pronto.
Se a idéia é simplesmente disputar
no tapa os números de audiência, tudo bem. Vez por outra, esse tipo de
estratégia pode colar. Se, por outro
lado, a Record quer fazer teledramaturgia de outras maneiras, precisa de
mais arroz com feijão.
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