São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2008

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opiniões divididas

Na abertura da Bienal, artistas e curadores elogiam a idéia de deixar um andar vazio, mas criticam o tom conceitual e "aborrecido" da mostra de arte

Leandro Moraes/Folha Imagem
Visitantes da Bienal caminham por andar vazio no prédio

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se a intenção da curadoria da 28ª Bienal de São Paulo, aberta anteontem, era dar visibilidade à crise do modelo das bienais, o resultado foi plenamente alcançado. O vazio do segundo andar, que representaria a tal crise, recebeu muito mais elogios de artistas e curadores do que a mostra de arte apresentada no terceiro andar, marcada pelo tom conceitual.
"É lindo, maravilhoso, uma experiência", afirmava o artista paulistano Carlito Carvalhosa, na abertura para convidados, no último sábado, sobre a possibilidade de caminhar pelo piso vazio. Na mesma direção opinou Fábio Coutinho, superintendente cultural da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre: "Arquitetonicamente é lindo, nunca se tinha visto toda a extensão do edifício".
"O vazio é mesmo incrível, mas eu fiquei triste. O terceiro andar parece jantar com pouca comida, é uma improvisação conceitual por conta da crise.
Acho que realizar apenas os seminários teria sido melhor", afirmou o artista mineiro Thiago Rocha Pitta. A artista Anna Maria Maiolino também adorou o espaço vazio, "mas queria ter um lote lá, me deu vontade de correr, fazer uma performance no local, mas já estou velha. Fico impressionada: como hoje os artistas são passivos".

Arquitetura conhecida
Mas mesmo o vazio, que a maioria elogiou, também foi alvo de reparos. "É maravilhoso, mas eu prefiro com obras de arte, ele é para ser assim quando não há Bienal", criticou o curador Agnaldo Farias. "É uma arquitetura bela, mas nós já conhecemos esse espaço desde 1954", comentou a curadora e crítica Aracy Amaral, que estava agachada em frente à obra de Ângela Ferreira, reclamando que não conseguia ler o que estava escrito, quando a reportagem da Folha se aproximava. "Nos anos 70, os artistas conceituais colocavam as obras na parede e era fácil de ler, aqui está tudo no chão ou em mesas, é mais difícil", disse Amaral. Para ela, a mostra no terceiro andar "privilegia uma abordagem da arte que é conceitual, e isso é muito aborrecido". "Existe uma produção nacional muito vigorosa, como a do Henrique Oliveira, só para citar um artista, que não está aqui e poderia estar", disse. De certa forma, a edição passada da Bienal, com o tema "Como Viver Junto" e curadoria de Lisette Lagnado, também se aproximou muito da arte conceitual. Essa vinculação foi percebida pela artista Lenora de Barros: "Eu vejo essa mostra como o fim da Bienal da Lisette, como se agora a coisa ocorresse de fato". Dentre os ouvidos pela Folha, aliás, o único curador que teve apenas elogios para "Em Vivo Contato" (título da mostra atual) foi o colombiano José Roca, um dos co-curadores da edição anterior. "Estou gostando muito, pois o que se vê é uma exposição coerente, o que em geral não ocorre em bienais, por uma questão de escala. Percebe-se aqui que todos os artistas trabalharam muito com os curadores." Roca foi responsável, no ano passado, por uma bienal com formato distinto, denominada "Encontro Internacional Medellín 2007", do qual Ana Paula Cohen, curadora da 28ª Bienal, também participou. "Creio que vários artistas que trabalham há algum tempo com a Ana Paula conseguiram realizar suas obras de maneira mais completa", afirmou Roca. A coerência que o curador cita também se refere ao trabalho do colombiano Gabriel Sierra, responsável pelas estruturas expositivas. Mas, para alguns, ele teria homogeneizado demais a Bienal. "Só estou vendo móveis, quando vim para ver arte", disse a curadora Ana Maria Belluzzo.

Educativo
No sábado à tarde, durante a abertura oficial, educadores dispostos perto das obras (que pediram para não ser identificados) queixaram-se da preparação de apenas duas semanas. Alguns sabiam falar sobre a obra perto da qual estavam, mas não conseguiam estabelecer relações com outros trabalhos à volta, e até para dizer o nome do artista precisavam consultar uma "cola", que nem sempre funcionou. "Gallimard", por exemplo, era citada como o nome do livro, e não da editora do livro usado por Vibeke Tandberg, "O Estrangeiro", para realizar sua obra.

28ª BIENAL DE SÃO PAULO
Quando: de ter. a dom., das 10h às 22h; até 6/12
Onde: pavilhão da Bienal (pq. Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5576-7600)
Quanto: entrada franca



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