São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2008

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32ª AMOSTRA DE SP

Crítica/"Cidade Maravilhosa"

Tailandês capta angústia da destruição de tsunami

Diretor estreante usa atração amorosa entre personagens para falar de perdas

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

N osso imaginário de catástrofes (naturais e outras) costuma ser abastecido apenas por imagens de filmes hollywoodianos dos anos 70 ("Terremoto", "Inferno na Torre" e outros) e por documentários do Discovery Channel. Na contramão do sensacionalismo de hábito, "Cidade Maravilhosa", filme de estréia do tailandês Aditya Assarat, aborda os efeitos do tsunami que assolou a região em 2004, com milhares de mortos.
Não se trata de reencenar o impacto do vagalhão, nem de explorar a destruição por meio de efeitos especiais. A opção de Assarat é filmar a angústia, capturá-la no rumor da natureza e no mal-estar de sobreviventes.
"Cidade Maravilhosa" acompanha o encontro de Ton e Na. Ele é um arquiteto que chega a Takua Pa, um dos vilarejos mais afetados pelo tsunami, para trabalhar num projeto de resort. Ela perdeu os pais na catástrofe e trabalha no pequeno hotel em que Ton se hospeda.
Ton perambula por ruínas, onde encontra um travesseiro e um frasco de protetor solar. Na refere-se vagamente à desaparição dos pais. Mas, apesar de trazer tais ecos do drama humano, o filme se atém às sensações, transmitindo uma angústia difusa que se configura, sobretudo, no modo de captar a natureza e no uso peculiar do som (a cargo do mesmo técnico dos filmes de Apichatpong Weerasethakul, tailandês com quem descobrimos re- centemente um cinema de sensações).
É pelo viés físico, da atração amorosa entre os protagonistas, que Assarat prefere capturar os efeitos da destruição e da perda, dando a esses acontecimentos outra dimensão.
Durante uma cena de amor, por exemplo, a tela se enche do movimento de ondas sobre a areia, acompanhada de efeitos sonoros que amplificam uma sensação de temor.
A narrativa elíptica do filme, com situações que emergem e se intensificam sem maiores explicações, reitera o efeito surpresa, colocando o espectador numa posição frágil, sujeita à desorganização da calma.

CIDADE MARAVILHOSA
Quando: hoje, às 16h, no Centro Cultural São Paulo
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
Avaliação: ótimo



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