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32ª AMOSTRA DE SP
Crítica/"Cidade Maravilhosa"
Tailandês capta angústia da destruição de tsunami
Diretor estreante usa atração amorosa entre personagens para falar de perdas
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
N
osso imaginário de catástrofes (naturais e
outras) costuma ser
abastecido apenas por imagens
de filmes hollywoodianos dos
anos 70 ("Terremoto", "Inferno na Torre" e outros) e por documentários do Discovery
Channel. Na contramão do
sensacionalismo de hábito, "Cidade Maravilhosa", filme de estréia do tailandês Aditya Assarat, aborda os efeitos do tsunami que assolou a região em
2004, com milhares de mortos.
Não se trata de reencenar o
impacto do vagalhão, nem de
explorar a destruição por meio
de efeitos especiais. A opção de
Assarat é filmar a angústia, capturá-la no rumor da natureza e
no mal-estar de sobreviventes.
"Cidade Maravilhosa" acompanha o encontro de Ton e Na.
Ele é um arquiteto que chega a
Takua Pa, um dos vilarejos
mais afetados pelo tsunami, para trabalhar num projeto de resort. Ela perdeu os pais na catástrofe e trabalha no pequeno
hotel em que Ton se hospeda.
Ton perambula por ruínas,
onde encontra um travesseiro e
um frasco de protetor solar. Na
refere-se vagamente à desaparição dos pais. Mas, apesar de
trazer tais ecos do drama humano, o filme se atém às sensações, transmitindo uma angústia difusa que se configura, sobretudo, no modo de captar a
natureza e no uso peculiar do
som (a cargo do mesmo técnico
dos filmes de Apichatpong
Weerasethakul, tailandês
com quem descobrimos re-
centemente um cinema de
sensações).
É pelo viés físico, da atração
amorosa entre os protagonistas, que Assarat prefere capturar os efeitos da destruição e da
perda, dando a esses acontecimentos outra dimensão.
Durante uma cena de amor,
por exemplo, a tela se enche do
movimento de ondas sobre a
areia, acompanhada de efeitos
sonoros que amplificam uma
sensação de temor.
A narrativa elíptica do filme,
com situações que emergem e
se intensificam sem maiores
explicações, reitera o efeito
surpresa, colocando o espectador numa posição frágil, sujeita
à desorganização da calma.
CIDADE MARAVILHOSA
Quando: hoje, às 16h, no Centro Cultural São Paulo
Classificação: não indicado a menores
de 16 anos
Avaliação: ótimo
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