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São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2003

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

"COMMUNICATION"

Karl Bartos aborda tecnologias em álbum de electro/tecnopop

Ex-Kraftwerk conduz viagem temporal pela era eletrônica

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Desde os anos 70 o grupo alemão Kraftwerk disputa com os ingleses do Beatles o título de banda mais influente da música pop. Os primeiros, na eletrônica; o grupo de John Lennon, no rock.
Se tal comparação é válida, pode-se dizer que o músico Karl Bartos é uma espécie de George Harrison do Kraftwerk, ou seja, uma peça-chave no sucesso do grupo, co-autor de alguns de seus maiores hits e sempre ofuscado pelos homens de frente.
Bartos entrou no grupo em 1975 e, irritado com os hiatos cada vez maiores entre um disco e outro, largou a toalha e partiu para uma carreira solo no começo dos anos 90. Ele lança agora "Communication", álbum de electro/tecnopop em que prevalece a temática da fascinação pela tecnologia.
"Os meios de comunicação eletrônica mudam ou, no mínimo, alteram o conteúdo de toda a nossa cultura. São eles que redefinem nossa realidade", diz Bartos.
Nesse espírito, ele se empolga com uma das tecnologias mais populares do planeta, a televisão. "É a nossa principal mídia porque a sociedade mudou de uma cultura centrada na palavra para uma cultura centrada na imagem."
Músicas como "The Camera", "Cyberspace" ou "Electronic Apeman" deixam claro que Bartos não mudou muito desde os idos dos anos 70. A sonoridade repleta de vocoders -a manjada voz de "robô"-, teclados e sintetizadores e as letras que celebram as máquinas são as mesmas dos tempos do Kraftwerk.
Na atual onda retrô da eletrônica, o álbum de Bartos soa, por isso mesmo, contemporâneo. "Ainda bem, não queria soar como vindo do tempo das cavernas. Hoje existe esse tal de electroclash e, para mim, é engraçado porque eu não mudei a minha música desde os anos 70", diz. "Todos consideram esse estilo moderno, mas é apenas o ambiente que mudou."

Passado
"Communication" sai quase ao mesmo tempo que "Tour de France Soundtracks", disco que o Kraftwerk lançou após uma pausa de 17 anos. "Escrevi "Tour de France" há 20 anos, e depois eles fizeram as letras. Para mim, é como ver uma retrospectiva em um museu. Ver os dois discos ao mesmo tempo é como ter um álbum duplo lançado."
Quando questionado se ele e os ex-companheiros ainda são amigos, Bartos é enfático: "Não". "Quando você é divorciado, você nunca conversa com sua ex-mulher, a não ser que seja sobre seus filhos. Há um ponto em que não há mais retorno ou conversas."
Ele usa exemplos de tecnologia -claro- para explicar sua saída do grupo. "Sabe aquelas empresas de internet que, quando começaram a falir, pagavam seus funcionários com participações nos lucros? Sentia-me assim, e não podia me dar esse luxo."
"No Kraftwerk, era como se eu estivesse em um grande carro que não conseguia dirigir. Hoje, tenho um carrinho modesto, mas posso ir para qualquer lugar que eu quiser", conclui.


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