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CLARO QUE É ROCK
Apresentação da banda de rock eletrônico comandada por Trent Reznor fechou o festival com tons sombrios e emoção
Nine Inch Nails explora raiva e fragilidade
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REPORTAGEM LOCAL
A tarefa que coube a Trent
Reznor, o multiinstrumentista de mão firme sobre sua criação
musical que prefere se esconder
sob o nome de Nine Inch Nails,
não era tão simples assim.
Shows que começam às duas da
manhã obviamente já contam
com um público mais cansado.
Além disso, Reznor não é do agrado de qualquer um: sua eletrônica
furiosa e permeada de detalhes,
baseada no rock industrial da década de 80, nunca freqüentou as
rádios (daqui) e há tempos deixou
a programação da MTV (dos EUA
e, bidu, também daqui). Para
completar, a noite paulista do Claro que É Rock ainda sentia queimar o rastro deixado pela apresentação de Iggy Pop.
Mas Trent Reznor teve inteligência para adequar a escolha das músicas ao momento -o set teve de
ser mais curto do que em seus
shows habituais- e sensibilidade
para equilibrar na ocasião suas
principais qualidades: a raiva e o
sentimento de fragilidade que se
alternam dentro da obra do Nine
Inch Nails.
O público foi pego de surpresa
pela entrada repentina, seca, com
"Wish", um hit do EP "Broken"
(1992) que justamente mostra o lado mais furioso do NIN. Sua letra é
um dos melhores exemplos do
etos da criação de Trent Reznor,
explorador em vários tons da descrença em Deus e nas pessoas e da
sensação de abandono.
Para o alívio dos que temiam a
repetição do som meia-boca no
show do Sonic Youth, acontecido
momentos antes no outro palco, a
parede sonora do NIN aparecia intacta e sem que os instrumentos
chegassem embolados. A banda,
que tinha o ex-Marylin Manson
Twiggy Ramirez, tocava bastante
entrosada; solta, mas no limite para reproduzir com fidelidade cada
trecho pensado e tocado cuidadosamente em estúdio por Trent
Reznor.
Não superaram, no entanto, a
surpresa e o impacto causados pela cenografia e pelo jogo de luzes,
que justificaram a parafernália de
25 toneladas trazida pela produção ao Brasil. Uma composição
feita em linhas retas sob tons
-como não poderia deixar de
ser- sombrios, com a iluminação
funcionando segundo a atmosfera
de cada parte do show. A apresentação não seria tão rica como foi
sem esse detalhe.
As falhas? A ausência de várias
canções em razão do adiantado da
hora (principalmente as do álbum
"The Fragile") e uma certa falta de
reverência do próprio criador ao
tocar "Closer", produção que está
incluída nos picos de genialidade
já atingidos por Reznor.
Deslizes perdoados pela hora em
que "Hurt" foi tocada. Johnny
Cash (1932-2003), um dos maiores
intérpretes da música americana,
definiu-a como a composição que
melhor definiu o sentimento de
um dependente de drogas no fundo do poço, embora a letra seja
aberta o suficiente para falar da
dor de maneira universal. Aí sim,
houve reverência de todas as partes traduzida em um silêncio, geral, de cortar o coração, no meio
da música. E certamente não foi
um momento em que Trent Reznor se sentiu abandonado.
Avaliação:
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