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CRÍTICA
Show do Flaming Lips começa antes da música
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Tudo bem, o mundo ainda
não acabou, afinal você está
lendo este texto. Mas não dá para
dizer que a banda americana Flaming Lips falhou ao promover no
Claro Que É Rock uma espetacular festa pré-apocalipse, como andou propagando o líder Wayne
Coyne. O Flaming Lips, esse sim,
fez a parte que lhe cabia.
Delícia para os olhos e os ouvidos, o veterano grupo de rock psicodélico de Oklahoma fez um dos
shows mais bem-sucedidos do
evento, levando em conta que ganhou por completo a platéia de
um lugar em que seus vídeos não
passam na MTV local, suas músicas não tocam nas rádios e só na
semana passada as lojas do país
receberam uma edição nacional
de um de seus 11 álbuns, "Yoshimi
Battles the Pink Robots".
O Flaming Lips já seria uma ótima banda de quatro integrantes
tradicionais para um show de
rock (guitarra, bateria, baixo e teclados), mas o que se viu no sábado é tudo menos um show tradicional de rock.
Primeiro porque a banda começa seu show bem antes de o som
sair de seus instrumentos, em forma de música.
O Flaming Lips entra no palco,
toma suas posições, Wayne Coyne caminha de um lado para o outro, conversa com a platéia, afina a
guitarra, ajuda a orientar um
Exército de ursinhos, vaquinhas e
esquilinhos gigantes que transforma o quarteto em um grupo de 30
integrantes.
O telão gigante é armado, balões
enormes são inflados, armas de
jogar tiras coloridas de papel às alturas são preparadas, papais-noéis correm de um lado e de outro cuidando da tumultuada logística maluca de uma apresentação lipiana. Aí, todo mundo percebeu, a "apresentação" do Flaming Lips já tinha começado havia tempos.
Coyne entrou numa bolha inflável, caminhou (modo de dizer)
sobre o público, voltou ao palco e
começou a parte sonora com "Race for the Prize", canção sobre
dois cientistas que disputam uma
corrida para salvar a humanidade
-a "salvação humana" é tema recorrente das músicas do grupo.
Trouxe um inspirada cover da
ópera-rock do Queen, "Bohemian
Rapsody", entoada em coro por
todo o público, que serve perfeita
para o lado orquestral do Flaming
Lips. Emocionou ao narrar a luta
da pequena Yoshimi contra os robôs rosas. Tocou com um órgão
de brinquedo a música que fala de
uma jam entre a vaca e o pato,
com direito a muitos "mus" e
"qués".
Acredite, até ali a doideira de
Wayne Coyne e cia. fazia todo o
sentido mesmo para os que no começo do show esboçaram algum
"claro que não é rock" para o Flaming Lips.
Mas ainda estava por vir o final
arrebatador, com a música da menina que usa vaselina e não geléia
no pão ("She Don't Use Jelly"), a
emocionante "Do You Realize" e
o panfletário-gozado cover que
encerrou o show, "War Pigs" (do
Black Sabbath), dedicado "às besteiras" de George W. Bush.
Você sabe, o presidente do país
que, se de um lado tem um líder
que tenta acabar com o mundo,
do outro tem uma banda que
sempre que pode faz uma maravilhosa "última festa" para o caso de
este mundo acabar mesmo.
Avaliação:
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