São Paulo, quarta-feira, 28 de novembro de 2007

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SP vê obra mística de Jodorowsky

Artista chileno, cuja atuação vai do cinema ao tarô, vem ao Brasil para evento em SP, Rio e Brasília

Obras surrealistas, como o western raro e psicodélico "El Topo", fazem parte da programação, que inclui leitura de tarô para o público

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Por pouco a Folha não cancela, inadvertidamente, a vinda do artista chileno Alejandro Jodorowsky para o festival que começa hoje em São Paulo, no qual apresentará seus filmes, autografará seus livros e quadrinhos e dará aulas de tarô.
"Você conhece uma companhia chamada TAM? É brasileira? É boa?", perguntou o artista, radicado na França, durante a entrevista que deu por telefone no último sábado, um dia antes de sua viagem.
Pressionado, o repórter não escondeu os fatos: o último grave acidente havia sido com um avião da referida empresa.
"Então não vou", reagiu Jodorowsky, rindo. Mas veio e já está no Rio, outra das cidades que, como SP e Brasília, recebem o festival em sua homenagem, onde o destaque, além da presença do artista, são seus filmes, que vão dos raramente exibidos ("El Topo", "A Montanha Sagrada", "Santa Sangre") até os totalmente inéditos por aqui ("A Gravata", "Tusk", "O Ladrão do Arco-Íris").
Não seria mesmo o medo de voar que pararia Jodorowsky, 78, ícone da contracultura que foi quase linchado no México durante a exibição de seu primeiro longa, "Fando e Lis" (1968) -a bizarra história de um casal (ela, paraplégica) que busca uma cidade mística.
Até porque ele estava ansioso para visitar o Brasil. E o que ele conhece sobre o país? "Candomblé", responde. "Mas, se você me perguntar que brasileiro eu admiro, é o Glauber Rocha, que eu conheci. Adoro "Terra em Transe"."
Glauber, a propósito, está representado no festival com "Cabeças Cortadas" (1970), com argumento e direção seus -há uma parte do evento dedicada a "filmes de outros diretores e relacionados à obra de Jodorowsky", diz a organização.

Arte é cura
Alejandro Jodorowsky começou a ganhar seu status cult nos anos 60, quando fundou o movimento artístico conhecido como Pânico, com o autor espanhol Fernando Arrabal e o ilustrador francês Roland Topor.
Com sua visão peculiar do papel do artista ("A finalidade da arte é curar; se não cura, não é verdadeira"), ele arrematou amigos como o mestre da mímica Marcel Marceau (morto neste ano), admiradores como Lennon e Yoko (que patrocinaram a distribuição de seus filmes nos EUA) e colaboradores como o desenhista Moebius.
"Misturo terapia e arte. Não é apenas entretenimento, uso os filmes para fazer uma terapia coletiva", disse à Folha.
A terapia não é para todos os gostos (nem todas as idades, já que a censura é quase sempre 18 anos): seus filmes são viagens surrealistas, misturando violência, sexo, filosofia, psicodelia - obras que geram reações do tipo "ame ou odeie".
"Nunca busquei um público. Faço os filmes e eles encontram seu público, ou não. Não sou um homem de negócios que faz filmes por dinheiro."
E o que tornou sua obra objeto de culto? "Talvez seja a minha honestidade. Na verdade, não sei, não me pergunto por que, só aceito. Talvez eu seja um gênio", responde, rindo.
Gênio ou não, o chileno é, no mínimo, uma figura divertida e inusual, que vale ser vista, seja na tela ou na mesa de tarô.


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