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SP vê obra mística de Jodorowsky
Artista chileno, cuja atuação vai do cinema ao tarô, vem ao Brasil para evento em SP, Rio e Brasília
Obras surrealistas, como o western raro e psicodélico "El Topo", fazem parte da programação, que inclui leitura de tarô para o público
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Por pouco a Folha não cancela, inadvertidamente, a vinda
do artista chileno Alejandro
Jodorowsky para o festival que
começa hoje em São Paulo, no
qual apresentará seus filmes,
autografará seus livros e quadrinhos e dará aulas de tarô.
"Você conhece uma companhia chamada TAM? É brasileira? É boa?", perguntou o artista, radicado na França, durante a entrevista que deu por
telefone no último sábado, um
dia antes de sua viagem.
Pressionado, o repórter não
escondeu os fatos: o último
grave acidente havia sido com
um avião da referida empresa.
"Então não vou", reagiu Jodorowsky, rindo. Mas veio e já
está no Rio, outra das cidades
que, como SP e Brasília, recebem o festival em sua homenagem, onde o destaque, além da
presença do artista, são seus
filmes, que vão dos raramente
exibidos ("El Topo", "A Montanha Sagrada", "Santa Sangre")
até os totalmente inéditos por
aqui ("A Gravata", "Tusk", "O
Ladrão do Arco-Íris").
Não seria mesmo o medo de
voar que pararia Jodorowsky,
78, ícone da contracultura que
foi quase linchado no México
durante a exibição de seu primeiro longa, "Fando e Lis"
(1968) -a bizarra história de
um casal (ela, paraplégica) que
busca uma cidade mística.
Até porque ele estava ansioso para visitar o Brasil. E o que
ele conhece sobre o país? "Candomblé", responde. "Mas, se
você me perguntar que brasileiro eu admiro, é o Glauber
Rocha, que eu conheci. Adoro
"Terra em Transe"."
Glauber, a propósito, está representado no festival com
"Cabeças Cortadas" (1970),
com argumento e direção seus
-há uma parte do evento dedicada a "filmes de outros diretores e relacionados à obra de Jodorowsky", diz a organização.
Arte é cura
Alejandro Jodorowsky começou a ganhar seu status cult
nos anos 60, quando fundou o
movimento artístico conhecido
como Pânico, com o autor espanhol Fernando Arrabal e o ilustrador francês Roland Topor.
Com sua visão peculiar do
papel do artista ("A finalidade
da arte é curar; se não cura, não
é verdadeira"), ele arrematou
amigos como o mestre da mímica Marcel Marceau (morto
neste ano), admiradores como
Lennon e Yoko (que patrocinaram a distribuição de seus filmes nos EUA) e colaboradores
como o desenhista Moebius.
"Misturo terapia e arte. Não é
apenas entretenimento, uso os
filmes para fazer uma terapia
coletiva", disse à Folha.
A terapia não é para todos os
gostos (nem todas as idades, já
que a censura é quase sempre
18 anos): seus filmes são viagens surrealistas, misturando
violência, sexo, filosofia, psicodelia - obras que geram reações do tipo "ame ou odeie".
"Nunca busquei um público.
Faço os filmes e eles encontram seu público, ou não. Não
sou um homem de negócios
que faz filmes por dinheiro."
E o que tornou sua obra objeto de culto? "Talvez seja a minha honestidade. Na verdade,
não sei, não me pergunto por
que, só aceito. Talvez eu seja
um gênio", responde, rindo.
Gênio ou não, o chileno é, no
mínimo, uma figura divertida e
inusual, que vale ser vista, seja
na tela ou na mesa de tarô.
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