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Apresentadores recebem para defender privatização
Hebe, Ratinho e Ana Maria Braga ganharam cachê para repetir mensagem pró-venda da Telebrás em seus programas, como em um merchandising de guaraná.
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APOIO COBRADO
"É o mesmo que eles estivessem falando: "Tome guaraná Antarctica'", afirma membro da organização
ONG pagou R$ 212,6 mil por declarações
IVAN FINOTTI
da Reportagem Local
A opinião de Hebe Camargo custou R$ 9.000. A do apresentador
Ratinho, R$ 3.000. Já a apresentadora Ana Maria Braga cobrou R$
800 por sua opinião.
São esses os valores dos cachês
que os apresentadores cobraram
para apoiar a venda da Telebrás em
seus programas de televisão.
As emissoras também cobraram
para que seus artistas falassem. O
SBT seguiu seu preço de tabela de
merchandising e recebeu R$
142.500 pelos três minutos em que
Hebe discorreu sobre as vantagens
da privatização. Já a Record embolsou R$ 55.400 pelas falas de Ratinho e Ana Maria Braga.
O pagamento às emissoras e artistas foi feito pela Associação Brasil 2000, uma ONG (organização
não-governamental) criada há cinco meses para fazer uma campanha a favor da privatização do sistema de telefonia brasileiro. A
campanha foi desenvolvida pela
agência de publicidade DM9. A Folha teve acesso a documentos dessas duas empresas.
Hebe, Ratinho e Ana Maria Braga deram suas "opiniões" sobre a
privatização a partir de um mesmo
texto, criado por publicitários.
Com algumas variações entre si
-cada programa adaptou o texto
a seu modo-, a mensagem dos
três foi a mesma (leia a íntegra do
texto e algumas adaptações dos
apresentadores nesta página).
As mensagens foram ao ar nos
dias 27 e 28 de julho deste ano. No
dia seguinte, 29, aconteceu o leilão
que privatizou a Telebrás.
O empresário Sergio Koury de
Assis Fonseca, um dos seis membros fundadores da ONG Brasil
2000, disse que a intenção era fazer
um "comercial disfarçado de merchandising". "É o mesmo que eles
estivessem falando: "Tome guaraná Antarctica. Porque é gostoso!
Faz bem à saúde'."
"Como não é um produto", continua, "você não pode dizer que foi
um comercial, porque eu não estou vendendo um produto. É uma
mensagem".
O total gasto pela ONG nesse
merchandising de TV foi de R$
212.620 -o valor inclui os cachês
do trio e o tempo cobrado pelas
emissoras. Isso significa 7,5% de
todo o gasto da Brasil 2000.
O custo total foi de R$ 2,85 milhões. Quem pagou tudo isso foram as próprias empresas privatizadas: Telesp, Tele Norte Leste e
Tele Centro Sul, por exemplo, deram meio milhão cada.
A ONG também pagou radialistas para que fizessem merchandising em seus programas de rádio
AM (leia texto nesta página).
Por fim, a parte mais visível da
campanha pela privatização foram
dois comerciais de 30 segundos
exibidos nos intervalos da Globo,
SBT, Record, Band e Manchete.
O merchandising é um tipo de
comercial exibido dentro dos programas. Em geral, utiliza o próprio
apresentador como garoto-propaganda. Prática comum quando se
trata de um produto vendável, é
usado também em novelas da Globo e em filmes de Hollywood.
Atualmente, Hebe faz quatro
merchandising de dois minutos
por programa, exibido às segundas, às 22h. O preço é o mesmo cobrado à ONG em julho -ainda
que o padrão seja dois minutos de
publicidade, e não três.
Assim, são R$ 95 mil para o SBT
-negociáveis de acordo com o
número de inserções- e R$ 6.000
para a apresentadora -não negociáveis. Segundo o departamento
comercial do SBT, a agenda de Hebe como garota-propaganda já está tomada até o fim do ano.
O "Programa do Ratinho" (seg. a
sex., às 20h45), que pulou da Record para o SBT em setembro deste ano, também trabalha com um
limite de quatro merchandising
por programa.
Mas, como ele próprio compra
dois desses espaços -para os produtos Viena Hair e In Natura-,
sobram apenas outros dois para os
empresários interessados. O preço
ali é de R$ 60 mil para o SBT e R$
4.000 para ele.
O merchandising de Ana Maria
Braga é o mais barato dos três. Para o vespertino "Note e Anote"
(seg. a sex., às 13h) -o programa
escolhido pela ONG-, paga-se R$
15 mil para a Record e R$ 2.000 para ela -tudo negociável.
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