São Paulo, sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

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THIAGO NEY

A crise dos 20 e poucos


Muitos se identificam com a série "Quarterlife"; outros questionam a pretensão de ser espelho de uma geração


V OCÊ TEM 20 e poucos anos; acabou de terminar a faculdade; tem um emprego chato e burocrático, mas toda noite alimenta o sonho de trabalhar com algo criativo e que faça a diferença; não sabe para onde seu relacionamento (ou a falta dele) o está levando. Você está perdido. Você está em crise e você não está sozinho.
Marqueteiros e jornalistas adoram desvendar tendências, descobrir nichos comportamentais. Em Nova York, de onde escrevo, marqueteiros e jornalistas estão assanhados com um assunto: "Quarterlife".
"Quarterlife" é um seriado criado por Marshall Herskovitz e Edward Zwick, os mesmos de "My So-Called Life" e "thirtysomething", e que é exibido exclusivamente pela internet.
Com episódios curtos (de oito minutos cada um), que são atualizados às quintas-feiras e aos domingos, "Quarterlife" gira em torno da vida de seis amigos, todos eles na faixa dos 20 e poucos anos.
O foco está em Dylan, uma aspirante à cineasta, mas que por enquanto trabalha como assistente em uma empresa jornalística. Dylan tem uma queda por Jed, seu vizinho, que por sua vez está de olho em Debra, que gosta de Danny, parceiro de Jed... Dylan e seus amigos são todos bonitinhos, brancos, de classe média.
No papel, é um seriado que não difere em nada de milhares de outros; esses amigos são como os de "Friends", embora menos frívolos e mais pretensiosos. Mas há um detalhe fundamental: a internet.
Não dá para dissociar a rede dos personagens de "Quarterlife". Dylan narra a vida de seus amigos por meio de um videolog e usa o veículo para produzir poesia; um de seus amigos, Andy, é um animador de vídeos que faz filmes na internet; Lisa é atriz e corre atrás de trabalho pela rede. E não pára por aí.
Os 14 episódios já criados de "Quarterlife" podem ser vistos em www. quarterlife.com. O endereço funciona não apenas como site mas como uma comunidade virtual, uma espécie de Orkut, de MySpace, montada para facilitar a troca de informações entre pessoas "criativas", "artísticas", o que for, com fóruns em que são discutidos assuntos como artes plásticas, filmes, design, literatura etc.
Em www.quarterlife.com, você pode montar o seu próprio perfil, acompanhar os episódios do seriado e trocar informações com outros fãs do programa. Bem-vindo à geração "Quarterlife", em que cada "produto" cria a sua própria comunidade virtual -até a cantora Kylie Minogue fez a sua para promover o lançamento de seu disco.
"Quarterlife", tanto o seriado quanto o site (o, humm, "conceito" todo), divide opiniões. Muitos se identificam com os personagens e suas incertezas; outros apontam os problemas exatamente na pretensão que a série tem de se colocar como o espelho de uma geração inteira.
O fato é que Herskovitz e Zwick tentaram vender "Quarterlife" para o canal ABC em 2005, mas a proposta foi recusada. Em 2008, "Quarterlife" deve ser exibido pela NBC, emissora do velho formato televisivo.
Um dos co-roteiristas escreveu em um blog relacionado ao programa: "Esta e futuras gerações de gente com 20 e poucos anos não vão pas- sar por crises da meia-idade, pois [os jovens desta geração] já realizam várias explorações como jovens adultos: eles trocam de empregos, de relacionamentos e de outras situações cotidianas. E, quando se acalmam, vão relaxar e não vão precisar de um carro esporte nem de uma mulher mais nova".


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