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Filme expõe Rangel em busca de teatro nacional
Documentário de Paola Prestes será lançado em DVD no começo de 2010
"Flávio Rangel - O Teatro na Palma da Mão", com Paulo Autran, reconstitui história recente das artes
cênicas brasileiras
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor Flávio Rangel
(1934-1988) buscava um teatro
comunicativo, mas também refinado, atento a filigranas de figurino, cenário e iluminação.
Perseguia uma teatralidade
"absolutamente brasileira", um
estilo nacional de interpretação, sem, com isso, contrair
ranços ufanistas. Os textos que
escolhia montar podiam ser de
autores estrangeiros, desde que
dissessem algo sobre a realidade local.
O percurso do encenador,
que coincide com momentos-chave das artes cênicas brasileiras da segunda metade do século 20, é revisto no documentário "Flávio Rangel - O Teatro
na Palma da Mão", de Paola
Prestes, exibido na Mostra Internacional de São Paulo e que
será lançado em DVD pela Biscoito Fino no começo de 2010.
Natural de Tabapuã, no interior paulista, Rangel descobriu
o teatro na capital, numa montagem de "A Falecida", de Nelson Rodrigues. Em 1954, um
debate após a peça "O Canto da
Cotovia", dirigida por Gianni
Ratto, apresentou-o a Manoel
Carlos, Fábio Sabag e Fernanda
Montenegro, entre outros.
O primeiro logo o chamou
para comandar uma produção
amadora; o segundo confiou a
ele um infantil. Rangel também
começou a assinar teleteatros.
Brecht
O ponto de inflexão, como
mostra o filme, é "Gimba, o
Presidente dos Valentes", texto
de Gianfrancesco Guarnieri
que o diretor leva à cena em
1959, com boa acolhida da crítica. Em excursão pela Europa, o
espetáculo ganha o prêmio de
melhor obra popular, e Rangel,
então com 25 anos, o segundo
lugar na categoria de diretor.
Perde para Bertolt Brecht, o
próprio. Por um voto.
Na volta ao Brasil, é cobiçado
por várias companhias, mas se
decide pelo Teatro Brasileiro
de Comédia, onde será o primeiro diretor artístico brasileiro. Ali, dá cores brasileiras ao
grupo, visto com contrariedade
em alguns círculos por praticamente ignorar a dramaturgia
nacional. Emenda "O Pagador
de Promessas", de Dias Gomes,
"A Semente", de Guarnieri, e "A
Escada", de Jorge Andrade.
Em 65, a repercussão de "Liberdade, Liberdade", manifesto contra toda forma de opressão que ele (já fora do TBC) assina com Millôr Fernandes,
confirma seu nome na dianteira da cena nacional. Ele sabe de
que repressão fala: até 70, será
preso cinco vezes.
No documentário, o protagonista, Paulo Autran, conta que
foi com "Liberdade..." que tomou consciência da função social do teatro.
Em depoimentos à cineasta
ou textos lidos, outras figuras
que se despediram dos palcos
nos últimos anos, como Sérgio
Viotti, Francarlos Reis e Ratto,
também ajudam a reconstituir
a história recente das artes cênicas brasileiras. A produção
do filme, vale lembrar, começou em 2003.
Já consagrado, Rangel dirige,
em 69, a última peça de Cacilda
Becker, "Esperando Godot". A
atriz morre um mês depois de
ter um aneurisma cerebral
quando estava em cena.
Na década seguinte, ele irá do
musical "A Capital Federal", de
Arthur Azevedo, ao intimismo
de "À Margem da Vida", de
Tennessee Williams.
Nos anos 80, virão "Amadeus", "Piaf" e "Cyrano de Bergerac", fechando um currículo
que endossa com precisão a sua
fala: "Acredito firmemente na
imortalidade do teatro".
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