São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2004

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POLÍTICA CULTURAL

Lei municipal que determina imposto de 5% sobre a bilheteria de espetáculos será discutida amanhã

Governo e produtores tentam "resolver" ISS

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma reunião entre a Secretaria Municipal de Finanças e Desenvolvimento Econômico, a Secretaria Municipal da Cultura e produtores para discutir a cobrança de 5% de ISS (Imposto sobre Serviços) sobre a arrecadação da bilheteria de diversos tipos de espetáculo está prevista para amanhã.
A lei de nš 13.701 foi sancionada no dia 24/12 e publicada no dia seguinte no "Diário Oficial" do município. É fruto da adequação da legislação municipal à lei complementar federal que altera o ISS.
"Pela pressa [em virtude da normatização imposta pela reforma tributária], acabou havendo confusão. Amanhã, haverá uma reunião para que juntemos os interessados. A minha posição é contra a cobrança do ISS, no montante que está sendo cobrado para a produção cultural. Já há uma taxação indireta [meia-entrada, por exemplo]. Defenderei uma revisão radical. Acho justo que se pague, mas que se contribua simbolicamente", afirma o secretário da Cultura, Celso Frateschi, 51.
Para Jorge Takla, 51, diretor da área de teatro da CIE Brasil (subsidiária da mexicana Corporación Interamericana de Entretenimiento, responsável pela montagem de "A Bela e a Fera", por exemplo), a questão precisa ser repensada. "Em relação ao teatro, [a cobrança] é uma coisa que inviabiliza a produção. Tivemos um susto muito grande, mas tenho a certeza de que vai haver bom senso e de que isso poderá ser conversado novamente", considera.
De acordo com o produtor, a persistência no quadro pode acarretar a elevação do preço das entradas. A CIE Brasil também atua na área de shows.
"O imposto foi imposto, num momento em que as pessoas estavam desarticuladas", avalia Carlos Meceni, 54, presidente da Apetesp (Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo). A associação pretende fazer pressões para que ocorra a revisão do tributo.
O ator e autor Hugo Possolo, 41, do grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões, diz achar o imposto "complicado". "Isso remete ao fato de que o artista tem a sua participação cidadã. Querer ser diferente da população é complicado. Por outro lado, prejudica-se uma área que carece de recursos. É como a meia-entrada. É fundamental, mas inflaciona os preços."
Já o diretor Antônio Araújo, 37, do Teatro da Vertigem, companhia que, a exemplo dos Parlapatões, já foi contemplada com as verbas do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, recebe a notícia com uma sensação "ruim".
"Talvez faça sentido taxar uma grande produção, mas, pensando no grosso da produção teatral que trabalha com muita dificuldade de levantar grana e apoio, como é o nosso caso, me parece absurdo. O que ganhamos com a bilheteria e dividimos entre o grupo é nada", diz o encenador.
Ele afirma que parece contraditória a instituição da cobrança por parte de um governo que se empenhou, por intermédio de esforços da classe teatral, na aprovação da lei de Fomento. "Parece quase uma retaliação. "Aprovamos o Fomento, agora 5% serão descontados". Isso é dificultar ainda mais uma produção que já é difícil."
(PEDRO IVO DUBRA)


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