São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

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CRÍTICA

O espaço da gastronomia na TV brasileira

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

É muito simpático que comida tenha um espaço tão divertido e variado na TV. As TVs abertas ainda marcam passo em programas convencionais, para a dona-de-casa que espia a televisão entre uma tarefa e outra, mas na TV paga há uma grande oferta de programas interessantes.
Claro: enquanto a TV aberta pensa num público para o qual cozinhar é obrigação, a TV paga pode tratar do que se chama, não sem certo salto alto, de "gastronomia", em outras palavras, fala para pessoas que podem pensar em cozinhar por prazer. É uma divisão cruel: enquanto nas anamariabragas da vida se aprendem coisas práticas e rápidas, com muitos produtos industrializados, do outro lado, pensa-se nas atividades envolvendo comida como experiências criativas e refinadas.
Curiosamente, uma das maiores estrelas de programas gastronômicos, Jamie Oliver, é dos poucos que cruzam a fronteira. No ano passado, a GNT exibiu uma série de programas em que ele tenta modificar o cardápio tenebroso das escolas públicas inglesas; neste ano, em sua "escapada" pela Itália, Oliver quer investigar por que os italianos comem infinitamente melhor que os ingleses.
"A Grande Fuga de Jamie Oliver para Itália", espécie de combinação entre "reality show" e documentário, combina o olhar jornalístico e o carisma desajeitado do chef -um inglês de 30 anos, com todos os signos pop e uma desenvoltura invejável diante da câmera-, com agilidade típica de "TV jovem". Mais: apesar de uma formação e experiências variadas na alta gastronomia, Oliver é, antes de tudo, um bom cozinheiro. Sua inquietude e curiosidade diante das panelas, dos ingredientes, dos utensílios é contagiante- e desmitifica a idéia de que cozinhar bem é para pedantes.
O olhar documental, quase que antropológico de Flávia Quaresma é também o grande trunfo de "Mesa para Dois". Suas reportagens sobre ingredientes e culinárias regionais constituem a melhor parte do programa, que ainda tem Alex Atala desenvolvendo receitas para os temas pesquisados por Flávia Quaresma.
"Menu Confiança" tem Claude Troisgrois propondo pratos para os vinhos escolhidos por Renato Machado ou vice-versa -o que se chama, hoje em dia, de "harmonização". Não tem jeito: a enologia continua sendo coisa meio antipática, para iniciados ou para quem consegue distinguir madeiras, chocolates e framboesas nos sabores do vinho, mas a simpatia de Troisgrois, seu excelente português e sua naturalidade diante das câmeras compensam o tom exclusivista do programa.
É outro francês -não por acaso, claro, uma vez que a cultura culinária francesa é vasta e de enorme tradição- que constitui a exceção da TV aberta. Olivier Anquier também fala de comida com propriedade, sem afetação e com um entusiasmo genuíno em "Tudo a Ver".


@ - biabramo.tv@uol.com.br


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