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Filme sobre astro da ópera chinesa vira febre
Longa de Chen Kaige concorrerá ao Urso de Ouro
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O Festival de Berlim vai assistir no mês que vem a uma
nova tentativa de deixar a Ópera de Pequim mais pop.
Chen Kaige, diretor de
"Adeus, Minha Concubina", vai
apresentar "Encantador para
Sempre", sua biografia de Mei
Lanfang, o maior ator do gênero em todos os tempos, famoso
pelos falsetos e só por interpretar papéis femininos da forma
mais lânguida possível (mulheres não podiam representar até
os anos 50). O filme estará na
mostra competitiva do festival
alemão, concorrendo a um Urso de Ouro, que será entregue
ao vencedor em fevereiro.
Depois de ser combatida por
décadas pelo regime comunista, como arte burguesa e contrarrevolucionária, a Ópera de
Pequim foi reabilitada pelo
próprio Partido Comunista.
Hoje, o governo pretende recuperar o sucesso dessa arte minoritária que já foi considerada
a grande expressão chinesa.
A rede estatal de televisão
CCTV criou um canal para a
ópera, e um luxuoso espaço foi
inaugurado em Pequim no final
do ano passado, o teatro Mei
Lanfang, com 1.035 lugares. A
Prefeitura de Pequim também
decidiu colocar a ópera no currículo das escolas públicas de
ensino médio.
Segunda produção chinesa
mais vista no país em 2008,
ainda em cartaz, o sucesso de
"Encantador para Sempre"
mostra que há muita curiosidade por Mei, que na China é reverenciado quase como os argentinos tratam Carlos Gardel.
Mei (1894-1961) foi a primeira (e única) estrela internacional da Ópera de Pequim, apresentando-se no Japão, nos Estados Unidos e na Rússia nos
anos 30, e recebendo elogios de
fãs como Charles Chaplin e
Bertold Brecht.
No filme, Mei é interpretado
pelo cantor pop Leon Lai, de
Hong Kong, e Zhang Ziyi, atriz
de "O Tigre e o Dragão" e
"2046", vive uma de suas três
mulheres.
Sua ambígua sexualidade fica
em segundo plano. No filme, o
patriota Mei é que ganha mais
espaço. Ele se nega a interpretar para os japoneses durante a
ocupação do país pelo Japão,
no final dos anos 30, e até deixa
a barba crescer. De arte burguesa, a Ópera de Pequim virou
demonstração de patriotismo e
nacionalismo.
"A Ópera de Pequim é a mais
completa forma de arte existente no mundo", proclama a
atriz Sun Ping, estrela da ópera
e diretora do Centro de Estudos Dramáticos Nacionais, da
Universidade do Povo da China, na capital chinesa. "Ela une
canto, dança, artes marciais,
teatro e poesia, é a essência da
cultura", diz à Folha.
Sun é integrante do Conselho Consultivo do Congresso
chinês e, como membro do
Partido Comunista, defende os
esforços para deixar a Ópera
mais acessível aos jovens.
"Sou de uma geração que conheceu apenas as peças aprovadas pelo governo, em que
muitos atores foram perseguidos. Hoje estamos recuperando as tradições chinesas", ela
conta.
Nos anos 60 e 70, no auge da
Revolução Cultural, apenas oito peças aprovadas pela mulher
do ditador Mao Tsé-tung podiam ser representadas.
Gato sob tortura
A preparação dos atores é um
processo de até oito anos de estudo. No segundo ano, professores eliminam os alunos que,
segundo eles, não têm características físicas ou boa voz. Várias faculdades criaram centros
de estudos especiais.
Cerca de 120 escolas municipais pequinesas, com alunos de
11 a 14 anos de idade, têm aulas
de canto e performance da
Ópera de Pequim.
A política é polêmica. Em
blogs e fóruns na internet, jovens chineses têm dito que o
que eles querem mesmo ouvir é
rap e hip-hop, não ópera por
obrigação. Detratores comparam os trinados dos cantores ao
som de um gato sob tortura.
"Acho que a Ópera de Pequim não é excludente. Os jovens podem ouvir de tudo, mas
é importante que eles pelo menos aprendam e tenham conhecimento da riqueza cultural
de seu país", diz Sun Ping.
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