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Desempenho excepcional de Sean Penn, é chance de reconhecimento para o "bad boy"
do cinema
A fera
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Dos europeus, Sean Penn
não tem do que se queixar.
Ele já levou o prêmio de
melhor ator nos festivais de
Berlim ("Os Últimos Passos de
um Homem", 1996), Cannes
("Loucos de Amor", 1997), e Veneza ("21 Gramas", 2003). Mas o
cinema americano ainda lhe deve
seu reconhecimento máximo. Seria justo e lógico, portanto, que o
Oscar de melhor ator deste ano
fosse para Sean Penn por seu desempenho excepcional em "Sobre
Meninos e Lobos", de Clint Eastwood. Mas, ainda assim, a premiação é incerta.
Penn é um "bad boy" do cinema
americano, o bicho-papão em potencial de uma cerimônia conservadora e (tentativamente) à prova
de imprevisibilidades como a do
Oscar. Um dos poucos atores
americanos que não escondem
suas opiniões, ele não tem a aura
de proteção politicamente correta
do casal Susan Sarandon-Tim
Robbins. Em 2002, visitou o Iraque para se declarar antiguerra.
De volta aos Estados Unidos, sob
uma saraivada de críticas, pagou
anúncio de página inteira no
"New York Times" e estampou
nele uma carta contra Bush. Para
completar, evita cerimônias do
Oscar, apesar das três indicações.
"Você é convidado para ser figurante de um mau programa de
TV e é visto aplaudindo filmes
que provavelmente despreza. No
fim das contas, eu me sinto socialmente desconfortável em participar do Oscar." Tudo indica, no
entanto, que Penn estará na festa
de domingo, "em respeito a Clint
Eastwood".
Mas o fato é que Sean Penn é um
gigante do cinema, um ator que
mais cedo ou mais tarde será reconhecido sob pena do vexame
histórico. Como Jimmy Marcus, o
pai desesperado de "Sobre Meninos e Lobos", ele se confirma do
tamanho de Marlon Brando. Há
uma cena particularmente antológica em que seu personagem
narra o sentimento de desamparo
do dia em que saiu da prisão e se
viu sozinho diante da filha pequena, na mesa do café da manhã.
Mas, se o sentimento geral de
"chegou a vez de Sean Penn" for
soterrado por temores políticos, é
bem possível que um ator mais jovem e quase tão talentoso leve o
prêmio. Jude Law é o que há de
mais energético no frio "Cold
Mountain", carregando o filme de
Anthony Minghella nas costas. É
um inglês interpretando um americano (coisa que os acadêmicos
costumam adorar) e um candidato à estrela de grande porte -o
que ele custou, mas enfim reconheceu: "Houve um período em
que negava a realidade da minha
situação. Acho que há uma espécie de modéstia nos ingleses que
torna difícil se conformar à vida
de estrela. A perspectiva do sucesso é sempre assustadora", disse.
Correndo por fora, ainda, há o
nada desprezível desempenho à la
Buster Keaton de Bill Murray em
"Encontros e Desencontros".
Econômico, melancólico e por vezes hilário, Murray tem ainda a
vantagem dos comediantes que se
revelam "grandes atores" no drama. Seu discurso ao receber o
Globo de Ouro de melhor ator de
comédia, no mês passado, foi de
fina ironia. Ele dedicou o prêmio
aos colegas da categoria "melhor
ator de drama", em geral segregados e pouco valorizados!
Com "Independent" e "Le Monde"
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