|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EVENTO
Governo é coadjuvante involuntário de debate em torno do geógrafo; presidente é criticado
Milton Santos discute o território brasileiro
ESPECIAL PARA A FOLHA
Se a globalização foi apontada
como personagem implícito do
novo livro de Milton Santos, "O
Brasil: Território e Sociedade no
Início do Século 21" (Record), o
governo federal acabou por se
tornar coadjuvante involuntário
do debate em torno do geógrafo e
professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), anteontem à noite no auditório da Folha.
O presidente Fernando Henrique foi criticado por Santos porque teria feito o Brasil "renunciar
a participar desse período histórico como ator dinâmico, preferindo ser passivo". Já o ministro da
Educação, Paulo Renato, foi o alvo do debatedor Octavio Ianni,
professor emérito de sociologia
da USP e da Unicamp, por sua
proposta educacional para o país,
"escrita pelo Banco Mundial e que
ele apenas traduziu". A platéia
aplaudiu.
Outra debatedora, Ana Clara
Torre Ribeiro, professora-adjunta
do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da
UFRJ e membro da Sociedade
Brasileira de Bioética, também citou o ministro Paulo Renato para
concordar com Ianni.
Participou ainda do debate, mediado pela repórter da Ilustrada
Sylvia Colombo, a argentina María Laura Silveira, pesquisadora
do CNPq no Departamento de
Geografia da USP e professora-assistente na Universidade Nacional de Comahue (Argentina), co-autora do livro de Milton Santos.
Falando sobre a questão geográfica, alvo de seu livro, Santos disse
ter querido "dar a palavra" ao território. "É preciso dizer que esse
território brasileiro já não é governado pelos governos", disse.
Sua parceira no livro também falou do território como "ator" histórico. "Quisemos contar a história do Brasil contemporâneo a
partir do uso do território", afirmou María Laura Silveira.
Octavio Ianni disse achar "sintomático" o fato de estarem aparecendo muitos livros sobre o
Brasil nos últimos anos, como o
do professor Milton Santos. "Há
algo no ar que favorece isso. Minha intuição é de que o país está
vivendo um impasse muito sério,
por isso há tantos livros tentando
responder "que país é este'", disse.
"Estamos diante de um clássico
brasileiro e isso é raro", elogiou
Ana Clara Ribeiro, se referindo ao
novo livro do geógrafo. "É história, mas não dos historiadores ou
dos sociólogos, porque leva em
conta o tempo e o espaço."
Milton Santos ironizou a primeira pergunta que lhe foi feita
por um membro da platéia, sobre
a distribuição do negro nos quatro territórios propostos por ele
em seu novo livro. "A questão do
negro é um tema que me interessou marginalmente em minhas
pesquisas. Não me agrada que os
negros se ocupem só das questões
sobre os negros", disse.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Relâmpagos - João Gilberto Noll: Voluntário Índice
|