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RELÂMPAGOS
Voluntário
JOÃO GILBERTO NOLL
Uma da tarde. Numa dedicação sem objeto, lá ia ele ladeira acima, distribuindo laivos do olhar de enfermeiro.
Muitos mastigavam porções
condensadas de saliva, em cacoete epidêmico... Engoliam,
sim, essas balas de nuvens do
palato, a imaginar o que seria
delas quando, maceradas,
chegassem ao estômago, ao
intestino grosso, à masmorra
dos esgotos... Ele ia na calçada
do sol com um balde, uma
toalha, pronto para o socorro
que nunca acontecia. O silêncio o instigava a derramar a
água na cabeça. E agora, como voltar, como seguir, ficar?
Molhado, a mão a um palmo
da fronte, o anular e o mínimo encolhidos. Pontífice da
periferia. Empedrado na sua
bênção secular. A sombra que
ele lançava parecia o perfil de
um agonizante vendo o que
ninguém mais via...
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