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Sou uma aprendiz no teatro, afirma Hermila Guedes
Protagonista de "O Céu de Suely" participa de "As Três Viúvas de Arthur" e de "Angu de Sangue" no Festival de Teatro de Curitiba
Autodidata, atriz começou nos palcos aos 16; na mostra, está em adaptação de contos de Marcelino Freire e em história de Arthur de Azevedo
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Entre as flores recebidas pela
estréia da noite anterior e as luzinhas do espelho no camarim
do teatro, Hermila Guedes diz à
fotógrafa: "De uns tempos para
cá, todos me pedem uma postura glamourosa". É um papel (ou
pose) a que a atriz de 26 anos
não se submete -pelo menos
ainda não, apesar do cenário
propício a afetações.
A antiestrela pernambucana,
de longas como "O Céu de
Suely" e "Cinema, Aspirinas e
Urubus", sobe ao palco em duas
montagens no Festival de Curitiba. Hoje e amanhã, na programação da mostra paralela, no
teatro José Maria Santos, ela
integra o Coletivo Angu de Teatro com "Angu de Sangue",
adaptação de contos do livro de
mesmo nome do conterrâneo
Marcelino Freire.
No início da semana, interpretou no teatro Guairinha
uma das protagonistas de "As
Três Viúvas de Arthur", com
textos do maranhense Arthur
Azevedo (1855-1908), atração
da mostra oficial e fruto do projeto O Aprendiz em Cena, do
Centro de Formação e Pesquisa
das Artes Cênicas Apolo-Hermilo, de Recife.
Autodidata
Entre o drama contemporâneo que estreou em 2003 e a
comédia clássica de 2005, Guedes diz que vai "aprendendo a
fazer teatro". A formação, autodidata, começou aos 16 anos,
quando ela e vizinhos foram incentivados pelo ator veterano
João Ferreira a participar de
um espetáculo.
"Tudo o que fiz foi na prática,
meio a pulso", afirma a atriz.
"Para crescer como artista, o
ideal é trabalhar com gente
grande, porque você se esforça
para ficar no nível dessas pessoas", avalia.
Na roda de "pais e mães amigos", como diz, estão o próprio
Ferreira, a atriz e produtora
Lúcia Machado, os diretores
Kleber Lourenço (com quem
trabalhou em "O Amor por
Anexins", uma das três histórias das "Viúvas" de Azevedo),
Marcondes Lima (de "Angu de
Sangue") e os cineastas Karim
Aïnouz e Marcelo Gomes. "Sorte não faltou."
Em Curitiba, na peça de Azevedo, Hermila Guedes -no papel de uma costureira viúva assediada por um sujeito viciado
em provérbios- contracenou
com Alfredo Borba, filho do
teatrólogo Hermilo Borba Filho (1917-1976), fundador do
seminal Teatro do Estudante
de Pernambuco (1946-1953).
O cruzamento de gerações
culmina em bom momento para o teatro local, na percepção
da atriz. "O movimento de teatro está se renovando em Pernambuco, como aconteceu
com a música e o cinema."
Num dos contos de "Angu de
Sangue" (a escrita de Freire é
urgente e atropela vírgulas e
pontos para tocar em feridas de
miséria e violência), uma criança de seis anos é estuprada e assassinada. Na cena, Guedes entoa um canto dolente "de chorar". As outras nove narrativas
não ficam atrás.
Sobre futuros textos para
teatro, ela ainda não se considera uma pessoa "muito estudiosa e conhecedora de dramaturgia", mas promete, entre risos, começar a ser. Desvia do
"eu" profundo. "Não dá para
criar uma personagem de mim
mesma. Fiz isso uma fez, no
"Céu de Suely", e está bom, não
foi fácil", afirma. E "viaja":
"Ainda não sou uma pessoa que
cria coisas; sou uma criatura
dos criadores."
Intolerância
O Coletivo Angu também
traz para o Fringe "Ópera", sábado e domingo, no mesmo José Maria Santos, reunião de
quatro peças curtas de Newton
Moreno ("Assombrações do
Recife Velho"), dramaturgo
pernambucano radicado em
São Paulo.
Na encenação de Lima, sete
atores, entre eles a transexual
Maite Schneider, vivem personagens que ora enfrentam a intolerância do outro, ora tentam
se afirmar na vida amorosa.
"O Cão", por exemplo, narra
as desventuras de um cachorro
gay e os reflexos sobre a família
de seu dono quando a condição
vem a público. Não demora e
tanto o pastor alemão como o
vira-lata morrem por envenenamento.
O jornalista VALMIR SANTOS e a repórter-fotográfica LENISE PINHEIRO viajaram a convite da
organização do Festival de Teatro de Curitiba.
16º FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA
Quando: de 22/3 a 1/4
Quanto: R$ 26 (na mostra paralela Fringe, de entrada franca a R$ 24);
mais informações: tel. 0/xx/41/ 4063-6290 e www.festivaldeteatro.com.br
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