São Paulo, quinta-feira, 29 de março de 2007

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Atores da Casa Laboratório encenam resultado de expedição ao sertão

Cacá Carvalho dirige "O Homem Provisório", inspirado em obra de Guimarães Rosa

DA REPORTAGEM LOCAL

Público imerso na escuridão, Riobaldo adentra a sala de espetáculo, 11º andar do edifício.
Fecha a porta e deixa o rasto de luz da realidade. De agora em diante, tudo é recriação ou tradução do sertão que Cacá Carvalho e os artistas da Casa Laboratório para as Artes do Teatro conheceram no Cariri cearense, chão para a montagem de "O Homem Provisório".
O espetáculo, que entra em cartaz amanhã na Unidade Provisória do Sesc Avenida Paulista, é livremente inspirado em "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa.
Se a primeira montagem do grupo, "A Sombra de Quixote" (2005), revisitava um personagem universal, a segunda -de subtítulo "Uma Travessia Teatral pelo Sertão"-ruma para as particularidades, mas sem prejuízo do que toca ao mundo.
A convivência de mais de mês dos artistas com a cultura e a gente de Nova Olinda, na região do Cariri, entre setembro e outubro de 2006, resulta na peça que espera refletir sobre identidade do homem brasileiro por meio da saga de Riobaldo.
Numa noite escura, o jagunço vaga a esmo, desnorteado, e recebe ajuda dos que já morreram, espectros como que solidários com sua travessia. São sertanejos, ou ainda cangaceiros, numa referência à histórica imagem das cabeças cortadas do bando de Lampião (1938).
O desejo da encenação é simbolizar a amnésia recorrente do país quanto à sua história.
Os atores surgem segurando as respectivas cabeças dos personagens degolados, moldadas em látex e caracterizadas à perfeição (por Vavá Torres), liame de vida e morte. "É como se essas cabeças, que são pedaços das nossas histórias, viessem nos dizer quem somos nós. Esses homens foram para onde?
Deixaram o quê? Nos ensinam o quê?", questiona o diretor.
Os enigmas chegam pelos versos do poeta Geraldo Alencar, discípulo de Patativa do Assaré. Ele, que não havia lido a obra de Rosa, fez 120 sonetos, o corpo de dramaturgia e de sonoridades. Outros artistas foram incorporados à pesquisa, como o xilogravurista Nilo e o rabequeiro e artesão Di Freitas.
"Concerto cênico", segundo Carvalho, o espetáculo se desdobra em CD e no documentário "Vozes do Cariri" (Maximo Verdastro), soma dos realizadores Fundação Casa Grande -Memorial do Homem Kariri em Nova Olinda, Sesc SP, Fondazione Pontedera e setor de cooperação internacional da Regione Toscana (Itália). (VS)

O HOMEM PROVISÓRIO
Onde:
Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, tel. 0/ xx/11/3179-3700)
Quando: estréia amanhã, às 19h30; sex. a dom., às 19h30. Até 13/5
Quanto: R$ 15


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