Edição inclui análise do legado de Carpeaux e texto raro dele sobre Gorki

Publicação tem também textos inéditos de Antonio Candido, Marcelo Coelho e Augusto de Campos sobre relação com a biblioteca

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

A 63ª edição da Revista da Biblioteca Mário de Andrade, lançada neste mês, tem como um dos destaques o anúncio da reunião e catalogação eletrônica do acervo particular do ensaísta e crítico literário Otto Maria Carpeaux (1900-1978), com raridades como a primeira edição de "O Processo", de Franz Kafka, e que foi adquirido em 1979 pela biblioteca. Segundo Luís Francisco Carvalho Filho, diretor da instituição, a nova edição marca o "renascimento" da BMA.
Para comemorar o anúncio, a revista inclui textos sobre a trajetória e o legado de Carpeaux, escritos por Mauro Souza Ventura, estudioso de sua obra. E ainda um texto raro do próprio crítico, em que ele comenta o teatro do escritor russo Máximo Gorki (1868-1936). A análise apareceu originalmente em 1968, no folheto de apresentação da peça "Ralé", com direção de Gianni Ratto.
Outro texto raro é um comentário do ensaísta Sérgio Milliet (1898-1966), à época diretor da Biblioteca Pública Municipal, publicado em 1949 na revista "Investigações", e que trata do processo movido na França contra o poeta Charles Baudelaire após a edição de "As Flores do Mal".
Milliet baseia as suas observações na análise de dois exemplares raros da primeira edição da obra francesa, ambos integrantes do acervo da Biblioteca Mário de Andrade -um volume que pertenceu a um dos membros do tribunal, e outro que teria pertencido ao próprio escritor francês.
A revista tem vários textos inéditos. Uma seção traz a memória afetiva de quem freqüentou a Biblioteca Mário de Andrade, como o crítico Antonio Candido, que fala das primeiras vezes em que esteve na instituição no texto "Lembranças"; o poeta Augusto de Campos, que recorda as descobertas que fez no acervo de livros raros ("Momentos Luminosos"); e Marcelo Coelho, colunista da Folha, que relembra como as coleções de jornais da biblioteca o ajudaram a reconstruir o clima do país na era JK ("Modernidade Horizontal").

Imprensa régia
A revista destaca ainda mais um capítulo das comemorações pelos 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil.
No "Dossiê Imprensa Régia", a revista traz ensaios e depoimentos de especialistas. Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha, assina uma "visita guiada" às coleções de Rubens Borba de Moraes e José Mindlin. Já a historiadora Laura de Mello e Souza, da USP, faz uma longa análise das conseqüências da vinda da família real ao país, em tópicos como "Equacionando Tradições" e "Tentativas de Releituras".