São Paulo, sábado, 29 de março de 2008

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Mostra compara arte com religião

Exposição com curadoria do PS1, do MoMA, inaugura galpão da Fortes Vilaça

Organizada por Neville Wakefield, do centro de NY, mostra no Bom Retiro tem 13 artistas, como Adel Abdessemed e Nuno Ramos

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Jornalistas do "New York Times" adiantam as manchetes de uma edição de 2020: um ataque bioterrorista contamina a água na Europa, uma nuvem de insetos destrói a Amazônia e cientistas inventam o teletransporte. De acordo com estatísticas, 70% disso será verdade, e assim a artista polonesa Agnieszka Kurant antecipa a história e desenha o futuro.
Sua obra na mostra que inaugura hoje o galpão da galeria Fortes Vilaça no Bom Retiro é a primeira página do diário nova-iorquino escrita por repórteres do jornal a partir de previsões de um vidente polonês, que tem entre seus clientes a Interpol e o governo. O detalhe é que a tinta é sensível ao calor e o texto desaparece em contato com as mãos do leitor: imagem de um futuro só 70% controlável.
"É acreditar em algo que não se pode ver", resume o curador Neville Wakefield, do PS1, centro de arte contemporânea do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), que faz pela primeira vez uma mostra no país. "Vejo arte e religião como a mesma coisa: entidades sobre as quais projetamos idéias."
Daí o título da mostra "God Is Design", que sugere o desenho como atividade criativa mundana para expressar a abstração divina. Para destrinchar o argumento, Wakefield reúne 13 nomes relevantes da arte contemporânea global, entre eles Adel Abdessemed, que esteve nas últimas edições das Bienais de Veneza e de São Paulo, Trisha Donnely e John McCracken.
Trabalhando entre quatro paredes móveis colocadas no centro do galpão de 1.500 m2, o curador usa o cubo branco de cerca de 100 m2 como recipiente da abstração artística, metáfora para como religiões armazenam idéias numa espécie de contêiner de anseios humanos.
"Formas muito simples viram recipientes de soluções muito complexas", afirma Wakefield. "A abstração pode ser um veículo de especulação."
Os microfones que o alemão Michael Sailstorfer instalou num cubo maciço de concreto realçam a tensão entre o espaço das obras e o resto do galpão, amplificando as vibrações sonoras de todo o prédio. "A obra torna audível o inaudível, é como se aumentasse o espaço", diz o artista, que expõe pela primeira vez no Brasil.
Na mesma linha, o suíço Urs Fischer cria uma caixa espelhada cheia de suco de laranja, café e cinzas de cigarro -mistura repulsiva que contrasta com a superfície lisa do lado de fora.
Nuno Ramos mostra "Black and Blue", um grande bloco de areia socada penetrado por uma gota de vaselina e vidro.
Rompendo com os contêineres, Renata Lucas rasga uma janela na fachada do prédio, ligando a rua ao espaço industrial do galpão.


GOD IS DESIGN
Quando:
abertura hoje, às 16h; de seg. a sáb., com agendamento; até 5/8
Onde: galpão Fortes Vilaça (r. James Holland, 71; tel. 0/xx/11/ 3392-3942)
Quanto: entrada franca


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