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Mostra compara arte com religião
Exposição com curadoria do PS1, do MoMA, inaugura galpão da Fortes Vilaça
Organizada por Neville Wakefield, do centro de NY, mostra no Bom Retiro tem
13 artistas, como Adel Abdessemed e Nuno Ramos
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Jornalistas do "New York Times" adiantam as manchetes
de uma edição de 2020: um ataque bioterrorista contamina a
água na Europa, uma nuvem de
insetos destrói a Amazônia e
cientistas inventam o teletransporte. De acordo com estatísticas, 70% disso será verdade, e assim a artista polonesa
Agnieszka Kurant antecipa a
história e desenha o futuro.
Sua obra na mostra que inaugura hoje o galpão da galeria
Fortes Vilaça no Bom Retiro é a
primeira página do diário nova-iorquino escrita por repórteres
do jornal a partir de previsões
de um vidente polonês, que tem
entre seus clientes a Interpol e
o governo. O detalhe é que a
tinta é sensível ao calor e o texto desaparece em contato com
as mãos do leitor: imagem de
um futuro só 70% controlável.
"É acreditar em algo que não
se pode ver", resume o curador
Neville Wakefield, do PS1, centro de arte contemporânea do
Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), que faz pela
primeira vez uma mostra no
país. "Vejo arte e religião como
a mesma coisa: entidades sobre
as quais projetamos idéias."
Daí o título da mostra "God Is
Design", que sugere o desenho
como atividade criativa mundana para expressar a abstração divina. Para destrinchar o
argumento, Wakefield reúne 13
nomes relevantes da arte contemporânea global, entre eles
Adel Abdessemed, que esteve
nas últimas edições das Bienais
de Veneza e de São Paulo, Trisha Donnely e John McCracken.
Trabalhando entre quatro
paredes móveis colocadas no
centro do galpão de 1.500 m2, o
curador usa o cubo branco de
cerca de 100 m2 como recipiente da abstração artística, metáfora para como religiões armazenam idéias numa espécie de
contêiner de anseios humanos.
"Formas muito simples viram recipientes de soluções
muito complexas", afirma Wakefield. "A abstração pode ser
um veículo de especulação."
Os microfones que o alemão
Michael Sailstorfer instalou
num cubo maciço de concreto
realçam a tensão entre o espaço das obras e o resto do galpão,
amplificando as vibrações sonoras de todo o prédio. "A obra
torna audível o inaudível, é como se aumentasse o espaço",
diz o artista, que expõe pela
primeira vez no Brasil.
Na mesma linha, o suíço Urs
Fischer cria uma caixa espelhada cheia de suco de laranja, café
e cinzas de cigarro -mistura
repulsiva que contrasta com a
superfície lisa do lado de fora.
Nuno Ramos mostra "Black
and Blue", um grande bloco de
areia socada penetrado por
uma gota de vaselina e vidro.
Rompendo com os contêineres, Renata Lucas rasga uma janela na fachada do prédio, ligando a rua ao espaço industrial do galpão.
GOD IS DESIGN
Quando: abertura hoje, às 16h; de
seg. a sáb., com agendamento; até 5/8
Onde: galpão Fortes Vilaça (r. James Holland, 71; tel. 0/xx/11/
3392-3942)
Quanto: entrada franca
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