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Fim de festival tem "cine-teatro" de grupo chileno
Espetáculo "Sin Sangre" é uma tragédia urbana que será exibida hoje, no encerramento do Festival de Curitiba
Cia. Teatrocinema funde as duas linguagens que lhe dão nome para "alcançar liberdade absoluta" ao contar uma história"
LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
O espetáculo chileno "Sin
Sangre" (sem sangue), apresentado hoje na programação de
encerramento do 18º Festival
de Curitiba, é "uma tragédia urbana atual, uma história de vingança, dor, resiliência e superação ambientada num país fictício, dividido entre dois bandos
irreconciliáveis após uma guerra civil ou ditadura".
A descrição é do diretor Juan
Carlos Zagal, que, talvez para
estar à altura da barroca sinopse decalcada do livro homônimo do italiano Alessandro Baricco, define a montagem como
"thriller dramático cine-teatral" -ou simplesmente "teatro de ação".
Expliquemos: para narrar a
trajetória de Nina, a única sobrevivente de uma chacina, e
do reencontro dela com o homem que exterminou sua família, a Cia. Teatrocinema funde
as duas linguagens que lhe
dão nome.
Assim, um carro estacionado
no palco ganha "movimento"
graças à estrada projetada no
telão alguns centímetros atrás;
da mesma maneira, um chute
no ar de um ator "de carne e osso" abre uma porta imaterial.
A ideia do diretor é "alcançar
a liberdade absoluta no que se
refere a contar uma história,
poder viajar instantaneamente
por tempo e espaço, não como o
cinema já faz, mas à moda dos
mágicos".
A pedra fundamental desse
formato híbrido, explica ele, é a
"fusão e confusão de diferentes
realidades e mundos paralelos", levadas a um ponto em
que não se sabe mais distinguir
o filmado do corpóreo.
Contra o tédio
Apesar dessa sobreposição
de camadas de informação, Zagal diz não temer que sua encenação resulte explícita, impositiva, sem brechas para a imaginação de cada espectador:
"Sabemos que nossa proposta artística traz tensão à linguagem teatral. Mas é nosso direito
buscar ferramentas que possam nos salvar da certeza de tédio existente numa arte que parece só reagir quando confrontada com a mudança".
Mudança que desafia um dos
cânones do teatro contemporâneo: o conceito de "espaço vazio" do diretor inglês Peter
Brook, que designa um palco
nu, despojado, em que a atuação do elenco dá mais dicas sobre a ambientação da história
do que os objetos cênicos.
"Isso já foi feito muitas vezes
e já não provoca o entusiasmo
de antes", opina Zagal. "Não me
sinto atraído por esse modelo.
Na companhia, acreditamos ter
dado um passo adiante na narração de histórias, um passo
que nos afastou da matriz literária e nos aproximou do físico
e do lúdico."
O retorno a um teatro "ortodoxo", dissociado das experimentações com vídeo, não está
nos planos do grupo chileno.
"Estamos num labirinto
grande e sinuoso demais, no
qual já nos perdemos", divaga
o diretor.
"Sin Sangre" cumpre minitemporada paulistana de 3 a 5
de abril, no Sesc Vila Mariana,
dentro de uma mostra dedicada ao teatro do Chile (leia mais
ao lado).
O jornalista LUCAS NEVES está hospedado a convite do festival
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