São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

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Fim de festival tem "cine-teatro" de grupo chileno

Espetáculo "Sin Sangre" é uma tragédia urbana que será exibida hoje, no encerramento do Festival de Curitiba

Cia. Teatrocinema funde as duas linguagens que lhe dão nome para "alcançar liberdade absoluta" ao contar uma história"


LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

O espetáculo chileno "Sin Sangre" (sem sangue), apresentado hoje na programação de encerramento do 18º Festival de Curitiba, é "uma tragédia urbana atual, uma história de vingança, dor, resiliência e superação ambientada num país fictício, dividido entre dois bandos irreconciliáveis após uma guerra civil ou ditadura". A descrição é do diretor Juan Carlos Zagal, que, talvez para estar à altura da barroca sinopse decalcada do livro homônimo do italiano Alessandro Baricco, define a montagem como "thriller dramático cine-teatral" -ou simplesmente "teatro de ação".
Expliquemos: para narrar a trajetória de Nina, a única sobrevivente de uma chacina, e do reencontro dela com o homem que exterminou sua família, a Cia. Teatrocinema funde as duas linguagens que lhe dão nome. Assim, um carro estacionado no palco ganha "movimento" graças à estrada projetada no telão alguns centímetros atrás; da mesma maneira, um chute no ar de um ator "de carne e osso" abre uma porta imaterial.
A ideia do diretor é "alcançar a liberdade absoluta no que se refere a contar uma história, poder viajar instantaneamente por tempo e espaço, não como o cinema já faz, mas à moda dos mágicos".
A pedra fundamental desse formato híbrido, explica ele, é a "fusão e confusão de diferentes realidades e mundos paralelos", levadas a um ponto em que não se sabe mais distinguir o filmado do corpóreo.

Contra o tédio
Apesar dessa sobreposição de camadas de informação, Zagal diz não temer que sua encenação resulte explícita, impositiva, sem brechas para a imaginação de cada espectador: "Sabemos que nossa proposta artística traz tensão à linguagem teatral. Mas é nosso direito buscar ferramentas que possam nos salvar da certeza de tédio existente numa arte que parece só reagir quando confrontada com a mudança".
Mudança que desafia um dos cânones do teatro contemporâneo: o conceito de "espaço vazio" do diretor inglês Peter Brook, que designa um palco nu, despojado, em que a atuação do elenco dá mais dicas sobre a ambientação da história do que os objetos cênicos. "Isso já foi feito muitas vezes e já não provoca o entusiasmo de antes", opina Zagal. "Não me sinto atraído por esse modelo.
Na companhia, acreditamos ter dado um passo adiante na narração de histórias, um passo que nos afastou da matriz literária e nos aproximou do físico e do lúdico." O retorno a um teatro "ortodoxo", dissociado das experimentações com vídeo, não está nos planos do grupo chileno. "Estamos num labirinto grande e sinuoso demais, no qual já nos perdemos", divaga o diretor.
"Sin Sangre" cumpre minitemporada paulistana de 3 a 5 de abril, no Sesc Vila Mariana, dentro de uma mostra dedicada ao teatro do Chile (leia mais ao lado).

O jornalista LUCAS NEVES está hospedado a convite do festival


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