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CINEMA
O dinamarquês Nicolas Refn, diretor dos badalados "Pusher" e "Bleeder", vai filmar "thriller" no Rio
O anti-Dogma 95 chega ao Brasil
JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Brasília
Esqueça o Dogma 95. O nome
mais quente do cinema dinamarquês, hoje, é Nicolas Winding
Refn, 30, diretor de "Pusher"
(1996) e "Bleeder" (1999), ambos
exibidos no 2º Festival Internacional de Cinema de Brasília, que
vai até segunda-feira.
"Pusher", que segundo seu diretor foi "o primeiro filme de gângster feito na Dinamarca", foi visto
por 200 mil pessoas em seu país
(um recorde para um filme independente) e causou furor no restante da Europa. O sucesso foi tão
grande que os norte-americanos
estão preparando um "remake".
Refn diz que nem quer saber
quem vai dirigir.
"Pusher", que custou US$ 1 milhão, totalmente bancados pelo
governo dinamarquês, abriu caminho para o longa-metragem
seguinte, "Bleeder" (leia crítica
abaixo), que custou um pouco
mais (US$ 1,5 milhão) e foi financiado basicamente por companhias privadas.
Filho do cineasta Anders Refn,
Nicolas Refn viveu dos 8 aos 18
anos em Nova York, onde chegou
a cursar uma escola de atores. De
volta à Dinamarca, dirigiu comerciais e montou filmes alheios, entre eles "Ondas do Destino", de
Lars von Trier, um dos signatários do Dogma.
Refn, que está em Brasília
acompanhando a exibição de
seus filmes, disse à Folha que seu
novo projeto é um longa-metragem falado em inglês, ainda sem
título, a ser rodado no fim do ano
no Rio e no Arizona (EUA).
Folha - Li que "Bleeder" é a segunda parte de uma trilogia iniciada com "Pusher". Como será
a terceira parte?
Nicolas Winding Refn - Essa
história de trilogia é um blefe. Foi
o truque que usei para conseguir
dinheiro para filmar "Bleeder".
Talvez eu faça, mais adiante, um
filme que feche a "trilogia", mas
vai demorar um pouco, pois antes
pretendo fazer uns dois filmes falados em inglês.
Folha - Fale alguma coisa sobre o projeto de filmar no Brasil.
Refn - Estou indo para Los Angeles para finalizar o roteiro. Por
enquanto, só posso dizer que será
um "thriller" rodado 70% no Rio.
Eu mesmo produzirei, com meu
parceiro Henrik Danstrup, e o
elenco será metade americano,
metade brasileiro. Vou morar um
tempo no Rio para conhecer melhor a cidade.
O que mais impressiona em
"Bleeder" é o espaço pulsante
que você criou. Como isso foi
feito, em termos técnicos?
Refn - Filmei em super-35 milímetros e depois ampliei para cinemascope. Sempre quis trabalhar em cinemascope, que dá
margem a usar muita cor. Usei
bastante uma lente grande-angular de 29 mm, o que ajudou a
acentuar o efeito.
Quais são suas referências
principais no cinema contemporâneo? Com que tipo de cinema
sente afinidade?
Refn - Praticamente não vejo cinema recente. Prefiro os clássicos.
Os jornalistas tentam sempre me
encaixar em categorias, mas isso
me irrita, pois o que faço não tem
nada a ver com o cinema que outros fazem hoje em dia.
Qual é a sua posição com relação aos filmes que seguem o
manifesto Dogma-95? Você vê
pontos de contato com seu cinema?
Refn - "Festa de Família" é muito bom. Os filmes devem ser avaliados pelo seu resultado, não pelos preceitos de um manifesto.
Não há nada mais distante dos
princípios do Dogma do que
meus filmes. No meu trabalho
não há lugar para a improvisação.
Dedico muito tempo à feitura do
roteiro, depois faço "storyboard"
(desenho do filme, plano a plano).
Quando vou filmar, já tenho todo
o filme na cabeça.
A única coisa em comum que
tenho com o Dogma é o baixo orçamento. Meus filmes são até
mais baratos que os deles. Dito isso, sou o único cineasta da Dinamarca que não tenta seguir ou
imitar o Dogma.
Folha - Conhece alguma coisa
do cinema brasileiro?
Refn - Vi pouco. Gostei de
"Central do Brasil", mas meu favorito ainda é "Pixote".
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