São Paulo, sábado, 29 de abril de 2000


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CINEMA
O dinamarquês Nicolas Refn, diretor dos badalados "Pusher" e "Bleeder", vai filmar "thriller" no Rio
O anti-Dogma 95 chega ao Brasil

JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Brasília

Esqueça o Dogma 95. O nome mais quente do cinema dinamarquês, hoje, é Nicolas Winding Refn, 30, diretor de "Pusher" (1996) e "Bleeder" (1999), ambos exibidos no 2º Festival Internacional de Cinema de Brasília, que vai até segunda-feira.
"Pusher", que segundo seu diretor foi "o primeiro filme de gângster feito na Dinamarca", foi visto por 200 mil pessoas em seu país (um recorde para um filme independente) e causou furor no restante da Europa. O sucesso foi tão grande que os norte-americanos estão preparando um "remake". Refn diz que nem quer saber quem vai dirigir.
"Pusher", que custou US$ 1 milhão, totalmente bancados pelo governo dinamarquês, abriu caminho para o longa-metragem seguinte, "Bleeder" (leia crítica abaixo), que custou um pouco mais (US$ 1,5 milhão) e foi financiado basicamente por companhias privadas.
Filho do cineasta Anders Refn, Nicolas Refn viveu dos 8 aos 18 anos em Nova York, onde chegou a cursar uma escola de atores. De volta à Dinamarca, dirigiu comerciais e montou filmes alheios, entre eles "Ondas do Destino", de Lars von Trier, um dos signatários do Dogma.
Refn, que está em Brasília acompanhando a exibição de seus filmes, disse à Folha que seu novo projeto é um longa-metragem falado em inglês, ainda sem título, a ser rodado no fim do ano no Rio e no Arizona (EUA).
 

Folha - Li que "Bleeder" é a segunda parte de uma trilogia iniciada com "Pusher". Como será a terceira parte?
Nicolas Winding Refn -
Essa história de trilogia é um blefe. Foi o truque que usei para conseguir dinheiro para filmar "Bleeder". Talvez eu faça, mais adiante, um filme que feche a "trilogia", mas vai demorar um pouco, pois antes pretendo fazer uns dois filmes falados em inglês.

Folha - Fale alguma coisa sobre o projeto de filmar no Brasil.
Refn -
Estou indo para Los Angeles para finalizar o roteiro. Por enquanto, só posso dizer que será um "thriller" rodado 70% no Rio. Eu mesmo produzirei, com meu parceiro Henrik Danstrup, e o elenco será metade americano, metade brasileiro. Vou morar um tempo no Rio para conhecer melhor a cidade.

O que mais impressiona em "Bleeder" é o espaço pulsante que você criou. Como isso foi feito, em termos técnicos?
Refn -
Filmei em super-35 milímetros e depois ampliei para cinemascope. Sempre quis trabalhar em cinemascope, que dá margem a usar muita cor. Usei bastante uma lente grande-angular de 29 mm, o que ajudou a acentuar o efeito.

Quais são suas referências principais no cinema contemporâneo? Com que tipo de cinema sente afinidade?
Refn -
Praticamente não vejo cinema recente. Prefiro os clássicos. Os jornalistas tentam sempre me encaixar em categorias, mas isso me irrita, pois o que faço não tem nada a ver com o cinema que outros fazem hoje em dia.

Qual é a sua posição com relação aos filmes que seguem o manifesto Dogma-95? Você vê pontos de contato com seu cinema?
Refn -
"Festa de Família" é muito bom. Os filmes devem ser avaliados pelo seu resultado, não pelos preceitos de um manifesto.
Não há nada mais distante dos princípios do Dogma do que meus filmes. No meu trabalho não há lugar para a improvisação. Dedico muito tempo à feitura do roteiro, depois faço "storyboard" (desenho do filme, plano a plano). Quando vou filmar, já tenho todo o filme na cabeça.
A única coisa em comum que tenho com o Dogma é o baixo orçamento. Meus filmes são até mais baratos que os deles. Dito isso, sou o único cineasta da Dinamarca que não tenta seguir ou imitar o Dogma.

Folha - Conhece alguma coisa do cinema brasileiro?
Refn -
Vi pouco. Gostei de "Central do Brasil", mas meu favorito ainda é "Pixote".


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