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"REFÉM"
Diretor ousa na forma de encarar a brutalidade em estudo do medo
CLAUDIO SZYNKIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Há muito a se notar em "Refém". A arquitetura, por
exemplo. Numa casa, jovens seqüestram e aterrorizam uma família. O olhar de Florent Emilio
Siri faz dessa casa um castelo, e de
sua intrincada "geografia", o centro nervoso do filme. Ou seja, a arquitetura de fato, a do "castelo",
aciona a arquitetura de imagens, a
do filme: temos um (belo) estudo
espacial sobre o medo.
Há mais, sem sair do tema medo. É um filme povoado por fantasmas, e eles nos indicarão uma
leitura, bem seca até, sobre a relatividade dos mecanismos do Estado. Onde o Estado está? Uniformes do FBI são vestidos por criaturas mascaradas, macabras, que
regem uma ação ilícita, mas maquiada, na intervenção no seqüestro. Há Willis (outro fantasma),
policial e negociador de seqüestros. Nem a ele, que vive em trânsito complexo entre estatutos sociais (oficiais) e individuais, podemos chamar de herói.
É ele, porém, o eco de Siri no filme. Os dois orquestram "encenações" em um espaço fechado. Siri
faz a câmera agir na estrutura do
castelo, passeia por ele; Willis não
pode, está de fora, administrando
cenário que não vê. Mas ambos,
manipuladores, se servem, em
suas operações (negociação e filme), do imponderável: como as
pessoas vão reagir? Como as imagens vão se articular? Há também
monitoramento com o qual os
dois, indomesticáveis, têm de jogar (produtor? FBI?).
A ousadia do filme, contudo, está em como a brutalidade é encarada: ela se insemina e se manifesta nos corpos. Como algo orgânico. Willis, após um assassinato,
surge depilado. Impressiona mais
um dos criminosos. Num corajoso fluxo de insanidade visual, Siri
faz o rapaz se metamorfosear em
um monstro, em território -o
castelo- que ruma ao dantesco.
Um humano, mas, na fronteira
com o cinema de horror, cada vez
mais desfigurado: a brutalidade
está no ato do seqüestro, mas contamina o corpo do seqüestrador.
Refém
Hostage
Direção: Florent Emilio Siri
Produção: EUA/Alemanha, 2005
Com: Jonathan Tucker, Serena Scott
Thomas, Michelle Horn
Quando: a partir de hoje nos cines
Butantã, Interlagos, Paulista e circuito
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