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BIA ABRAMO
Os pais precisam decidir sozinhos?
Sabe-se que sexo e violência vendem e, sempre que necessário, as emissoras os usarão
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A ASSOCIAÇÃO Brasileira de
Emissoras de Rádio e TV
(Abert) conseguiu, por enquanto, derrubar a obrigatoriedade
de as emissoras exibirem a programação de acordo com a classificação
de horário determinada pelo Ministério da Justiça (MJ). A decisão do
Superior Tribunal de Justiça (STJ),
que foi conhecida na quarta-feira
passada, garante às redes de televisão o direito de veicular qualquer
conteúdo em qualquer horário.
A Abert repudiou a portaria do MJ
que instituiu a obrigatoriedade da
restrição de horário a partir da classificação por faixa etária desde sua
publicação, em fevereiro deste ano.
Sua argumentação, transformada
em uma campanha de TV, imputa
aos pais o direito -mas também o
dever- de decidir o que as crianças e
adolescentes devem ou não assistir.
Os pais, entretanto, estão mudos e
quedos. Claro, os pais não são uma
categoria, não são um grupo organizado, não têm porta-voz. Não haveria mesmo como representá-los,
mas a Abert tem insistido em, de alguma forma, falar por esses "pais"
abstratos e genéricos.
O discurso da Abert, que fez circular uma nota à imprensa quando da
decisão do STJ, quer parecer bacana,
moderno, avançado. Investe contra
o controle do Estado em um terreno
que não lhe competiria e defende o
livre-arbítrio dos indivíduos que
têm filhos no que se refere à educação dos mesmos.
Está aí embutida uma suposição
de que qualquer atividade controladora do Estado vai contra os interesses da sociedade. É uma idéia que
circula por aí com facilidade, pelo
apelo liberalizante.
Pode-se, entretanto, complicar
um pouco essa equação. Se é quase
"natural" hoje em dia pensar que o
interesse da sociedade pode ser diverso do do Estado, também deveria
se concluir com a mesma facilidade
que sociedade e emissoras de TV
não se pautam exatamente pela
mesma agenda.
Num quadro de hiperconcorrência como é o atual, o que acontece, na
verdade, é o inverso: o interesse das
emissoras mostra estar mais distante do que próximo do interesse da
sociedade.
Em relação à educação de crianças
e jovens, por exemplo, há conflitos
evidentes: não é segredo para ninguém que sexo e violência vendem e,
toda vez que se fizer necessário, as
emissoras não hesitarão em lançar
mão desses recursos.
Com mais ou menos escrúpulos
ou mais ou menos bom senso, importa pouco. Importaria, de fato, saber se os pais querem assumir sozinhos o dever de proteger os filhos
desse fogo cruzado.
biaabramo.tv@uol.com.br
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