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Em DVD, "Ônibus 174" fica capenga
LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Um dos principais documentários brasileiros produzidos nos
últimos anos, "Ônibus 174", de
José Padilha, acaba de ser lançado
em DVD para venda no mercado
brasileiro, mais de dois anos após
sua exibição nos cinemas do país.
Boa notícia? Não exatamente. A
versão do filme que chega às lojas,
mesmo produto disponível para
locação desde fevereiro, traz uma
obra incompleta.
"Ônibus 174" aborda o seqüestro de um ônibus no Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro,
em junho de 2000. Padilha reconstrói a trajetória do seqüestrador Sandro do Nascimento, desde
sua infância como garoto de rua
até o ato terrorista.
Os dois pilares do documentário são as imagens do seqüestro,
captadas por emissoras de TV e
câmeras de monitoramento de
trânsito, e os depoimentos de pessoas que, direta ou indiretamente,
estiveram envolvidas com o crime
ou o seqüestrador.
Nessa estrutura, na qual os pilares se intercalam, surgem os dois
problemas centrais do DVD:
1) Os diálogos entre seqüestrador e policiais, cenas captadas a
longa distância, são parcialmente
inaudíveis. Nos cinemas, o problema foi resolvido com legendas
para as principais conversas. No
DVD, o recurso não aparece.
2) Na versão em tela grande, os
entrevistados são identificados.
Ao contar suas histórias, policiais,
reféns, familiares e amigos do seqüestrador têm apresentados nome e elo com Sandro. No DVD,
esses créditos sumiram.
Além disso, a versão lançada pela distribuidora LK-Tel é 15 minutos mais curta do que a apresentada nos cinemas do Brasil em dezembro de 2002.
O motivo
Para fazer o DVD, a LK-Tel utilizou como base a versão bruta de
"Ônibus 174" preparada para exibição no exterior. Por isso a ausência de legendas e a minutagem
reduzida.
Segundo Bruno Tavares, coordenador-executivo da LK-Tel, a
empresa utilizou no DVD o material que recebeu da Riofilme, distribuidora de cinema e detentora,
originalmente, dos direitos de comercialização de "Ônibus 174" no
mercado brasileiro.
A Riofilme, por sua vez, diz que
repassou à LK-Tel a versão enviada pelo cineasta José Padilha. "Em
setembro de 2004, Padilha enviou
duas cópias beta, uma digital e
outra analógica, para a produção
do DVD", afirma Antônio Urano,
que assumiu a diretoria comercial
da empresa há cerca de 20 dias.
Ele acrescenta que, por falta de
equipamento na Riofilme, a empresa não pode avaliar a qualidade do material de Padilha.
O cineasta nega o envio e ataca a
Riofilme: "Nunca mandei nenhuma fita à Riofilme para o DVD de
"Ônibus 174". Ninguém nunca me
pediu nada. Sem a Riofilme, "Ônibus 174" não existiria, a empresa
investiu em meu longa-metragem
quando ninguém acreditava nele,
mas a Riofilme não está preparada para lançar as produções em
que investe".
Além dos problemas na edição
em DVD do filme, os extras de
"Ônibus 174" são paupérrimos:
traileres de outros lançamentos
da LK-Tel e sinopse do documentário, mesmo texto que aparece
na embalagem do produto. Como
base para comparação, o DVD de
"Ônibus 174" lançado nos EUA
traz cenas cortadas, comentários
e making of.
O DVD americano de "Ônibus
174" saiu em julho de 2004, antes
da edição brasileira, o que fez com
que, segundo Padilha, começassem a chegar ao mercado nacional cópias piratas da obra.
Esse fato levou o diretor a pressionar a Riofilme para que o DVD
brasileiro fosse lançado, e o contrato fechado com a LK-Tel previa
a chegada de "Ônibus 174" às locadores em fevereiro e para venda
neste mês de maio.
"Por contrato, tínhamos um
cronograma a cumprir", diz Bruno Tavares, da LK-Tel. Questionado se o produto lançado é incompleto, Tavares afirma: "Teoricamente, sim". E acrescenta que a
LK-Tel prepara para agosto um
novo DVD de "Ônibus 174", com
a versão integral do filme, com os
problemas de legendagem corrigidos e com vários extras.
Qual o modelo para o novo produto? O DVD americano.
Ônibus 174
Direção: José Padilha
Distribuidora: LK-Tel; R$ 40, em média
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