São Paulo, sábado, 29 de maio de 2010

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Arquivo guarda pepitas em cartas de ilustres

Acervo pessoal de Drummond na Casa de Rui Barbosa tem preciosidades


EM CARTA A GRACILIANO, DRUMMOND OPINA SOBRE O LANÇAMENTO "INFÂNCIA": "NADA LHE FALTA, NADA LHE SOBRA"

Correspondência acessível em fundação vai muito além da troca com grandes escritores já publicada em livro

DO ENVIADO AO RIO

Em meio a dezenas de cartas de nomes desconhecidos, é possível garimpar na correspondência pessoal de Drummond na Casa de Rui Barbosa algumas pepitas relacionadas a figuras ilustres.
É o caso do escritor Dalton Trevisan, de quem há 10 cartas a Drummond, a maioria quando o paranaense era ainda um jovem e o mineiro já poeta consagrado. Em carta de 8 janeiro de 1955, Trevisan citou trecho de uma outra enviada por Drummond em 1946, avaliando "Sonata ao Luar", o livro de estreia que mais tarde o "Vampiro de Curitiba" renegaria.
O poeta disse ser um "bom começo", para quem tem "... alguma coisa a contar. Você tem. É ir se despojando da visão "literária" das coisas e procurando fixá-las na sua expressão própria, (...) abandonando as sugestões fáceis, as comparações que são quase sempre insuficiência da expressão, as bonitas palavras, as frases de efeito."
Aí Trevisan pede para mandar novos escritos: "Serão umas 30 páginas, você leria quando quisesse e se quisesse e depois me devolvia, com 2 ou 3 linhas: Dalton, você é advogado, porque não se dedica às causas?".
Na correspondência entre Drummond e Carlos Lacerda há curiosidades como um mal-entendido em 1975.
O político, jornalista e editor envia um livro ao amigo, com a dedicatória: "Para Carlos Drummond de Andrade, que não gosta de mim, mas certamente gosta de Fernando Pessoa (...)".
Drummond responde: "Ninguém é indiferente ao "charmeur" fascinante que você é, e mesmo os que supõem detestá-lo, no fundo gostam de você. Apenas discordei de posteriores atitudes políticas de você, o que é coisa comum na vida (...)".
Chico Buarque, em 1972, envia, a pedido de Roberto Freire (o psicanalista), uma carta pedindo que Drummond opine sobre o projeto "Jornalivro" [periódico cultural]. Assim termina Chico: "Quanto a mim, fico sem jeito, entrei de Cristo na história, apesar de achar o negócio bacana. Deixo o envelope na portaria, peço desculpas e dou no pé. Um abraço apavorado do, Chico Buarque".
(FV)


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