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LIVROS
CRÍTICA CRÔNICA
Werneck cura complexo de vira-lata da crônica brasileira
Líricas e cômicas, histórias dialogam com a obra de grandes cronistas
XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA
O marido da mulher pelada, com ares de proprietário
da cria da sua costela, está ali
para empatar a foto, cheio de
exigências e complicações. É
um drama.
Humberto Werneck, em
um dos empregos ditos como
mais invejados do Brasil -o
de redator-chefe da "Playboy"-, enfrentou muitas vezes o marido da mulher pelada, um cri-cri disposto a inflacionar cada parte da anatomia feminina como se fosse um açougueiro diante de
uma crise de carne.
Com personagens da sua
trajetória jornalística, o escritor nos deu "O Espalhador de
Passarinhos & Outras Crônicas", reunião de textos que
ajuda a desfazer o complexo
de vira-lata deste gênero tão
popular no Brasil quanto
mulher pelada, porém sempre visto como time da Segundona na literatura.
O título do livro é, de propósito, quase o mesmo de "O
Empalhador de Passarinhos" (1946), coletânea de
ensaios de Mário de Andrade. No caso de Werneck, o
herói é o seu pai, com a mania de colher pássaros onde
são abundantes e soltá-los
onde as espécies revelam sinais de extinção.
Autor do premiado "O
Santo Sujo - A Vida de Jayme
Ovalle" (Cosac Naify, 2008),
Werneck nasceu em Belo Horizonte em 1945 e mora em
São Paulo desde 1970. Escreve atualmente para o "Brasil
Econômico".
INTERTEXTUALIDADE
Líricas, de costumes ou
simplesmente -graças às
"belorizontices"- capazes
de provocar abestalhamento
de gargalhadas, as crônicas
werneckianas ainda conversam com os outros bons do
mesmo gênero.
Entre outros, um Otto Lara
Resende aqui, um Paulo
Mendes Campos mais adiante, um Nelson Rodrigues declarando que os remédios o
"devoooram".
Da memória jornalística e
da sua vida de "Playboy", o
autor reconstitui a missão de
localizar e despir a ex-modelo cubana Alina Fernández
Revuelta.
A tarefa se torna mais épica quando sabemos que se
trata de ninguém menos que
a filha de Fidel Castro.
Eram tempos pré-photoshop e a ilustre candidata a
peladona revelava uma certa
adiposidade nada ideológica
-estava mais para modelo
viva do pintor Botero do que
para o voyeurismo da revista
masculina. Mais não conto
para não estragar a aventura
do cronista.
O ESPALHADOR DE
PASSARINHOS & OUTRAS
CRÔNICAS
AUTOR Humberto Werneck
EDITORA Dubolsinho
QUANTO R$ 40(160 págs.)
AVALIAÇÃO bom
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