São Paulo, sábado, 29 de maio de 2010

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CRÍTICA

BIOGRAFIA/TEATRO


Biografia revela o dia a dia de Célia Helena

Livro e revista acadêmica reconstituem o legado da artista e educadora no teatro e na memória cultural do país

CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA

Escrita por Nydia Licia, "Célia Helena: Uma Atriz Visceral" reconstrói sua trajetória através de tons distintos. Por uma via mais intimista, alguns familiares e colegas de palco fazem depoimentos espontâneos ao relembrar anedotas mais atrevidas de coxia.
Numa vertente mais clássica, o livro combina relatos de grandes diretores com trechos de resenhas publicadas por críticos de teatro.
Recebem maior atenção suas participações no Teatro Oficina, com a histórica montagem nos anos 1960 de "Pequenos Burgueses", de Máximo Gorki, dirigida por José Celso Martinez Corrêa, e nos anos 1970 de "Pano de Boca", dirigida por Fauzi Arap.
Com isso, o grande trunfo do livro é alinhavar passagens mais marcantes de sua carreira a fragmentos da memória cultural do país.
Ao se voltar para seu passado como educadora, porém, os generosos testemunhos de colaboradores que serviram como seu braço direito à frente da criação do Teatro-Escola Célia Helena focam mais as dificuldades do dia a dia, não possibilitando ao leitor acessar com clareza seu legado didático.

REVISTA
Esta pequena falha na biografia parece se redimir na bem-vinda revista "Olhares", uma fusão de estudos acadêmicos com textos voltados à prática teatral, publicada pela Escola Superior de Artes Célia Helena sob a editoria de Lígia Cortez e do convidado Luiz Fernando Ramos, também crítico da Folha.
Com conteúdo abrangente e sólido, este primeiro robusto número abre com uma reflexão dos diretores Renato Ferracini, Marcelo Lazzaratto e Marco Antonio Rodrigues sobre a pedagogia do ator.
O "processo colaborativo" é abordado por Antônio Araújo e Rosyane Trotta. Há uma brilhante discussão sobre o "trabalho de mesa" por profissionais da área, que culmina com uma bela entrevista com Maria Thereza Vargas e Nydia Licia sobre o desenvolvimento da prática de se debruçar sobre os textos nas décadas de 1940 e 1960.
Nas originais seções fixas, merecem destaque "Técnica", em que o iluminador Davi de Brito dá dicas sobre sua arte; "Dramaturgia Latino-Americana", com a peça "Mulheres Sonham Cavalos", do argentino Daniel Veronese; e "Retrato", um grande final com Cleyde Yáconis, por Oswaldo Mendes.
"Olhares" acaba por cristalizar o verdadeiro legado de Célia Helena, fundadora de um espaço de discussão que se tornou hoje um dos maiores núcleos de pesquisa em artes cênicas no país.


CÉLIA HELENA: UMA ATRIZ VISCERAL

AUTOR Nydia Licia
EDITORA Imprensa Oficial
QUANTO R$ 30 (160 págs.)
AVALIAÇÃO bom



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