São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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EXPOSIÇÃO

História, essa caixinha de surpresas

DE NOVA YORK

Engana-se quem pensa que o conceito de multimídia é recente. Sua origem data de centenas de anos antes da invenção do computador, da TV e do vídeo. Na verdade, surgiu no Renascimento, nos séculos 16 e 17, no afã de conhecimento criado pelas primeiras enciclopédias.
Eram as chamadas "Wunderkammern", câmaras de maravilhas, em alemão, também conhecidas como gabinetes de curiosidades ou gabinetes de maravilhas, que reuniam, às vezes em espaços tão pequenos quanto uma caixa, às vezes num prédio inteiro, o que de mais moderno, curioso e inusitado havia sido produzido pelo conhecimento.
Desde o começo do mês a Biblioteca Pública de Nova York tenta reproduzir um pouco esse ambiente, com a exposição "The Public's Treasures: A Cabinet of Curiosities from The New York Public Library" (Os Tesouros Públicos - Um Gabinete de Curiosidades), que vai até agosto.
A mostra apresenta 250 itens divididos em cinco partes, começando por "The World in a Nutshell - A Peek Inside Cabinets of Curiosities" (O Mundo em Resumo - Uma Espiada nos Gabinetes de Curiosidades", em que são detalhadas as origens do conceito, na Europa renascentista, e sua rápida proliferação pelos EUA.
Aqui, é curiosa a leitura de uma lista de novidades de uma câmera de curiosidades do século 17: dois dentes do tamanho de um punho que pertenceram a um homem gigantesco; um jogo de xadrez cujas peças pesam menos de 1g; o pedaço de um chifre de unicórnio (nem todos achavam então que o animal mítico era mítico).
As outras quatro submostras são agrupadas em "guerra e fama", "expressão escrita", "tabu" e "coleções incomuns". Entre os destaques da segunda, está uma irônica edição feita de amianto do livro "Fahrenheit 451", ficção futurista de 1951 escrita pelo norte-americano Ray Bradbury, 81, que virou filme de Truffaut e trata justamente de uma sociedade totalitária em que a leitura é proibida e todo o material impresso, incinerado.
Há ainda uma rebuscada bússola do século 19 que supostamente consegue determinar o fengshui de uma área. Fengshui é a prática milenar chinesa que relaciona a posição dos objetos no espaço com prosperidade, saúde e felicidade. Virou moda na década de 90 entre jovens casais endinheirados do mundo todo.
Como toda Wunderkammern que se preze, há objetos de valor histórico indubitável e muita esquisitice também. Uma amostra: um cilindro babilônico do século 6 a.C., da época do reinado de Nabucodonossor; um romance escrito em inglês sem a utilização da letra "e", a mais usada na língua.
"Nós não fomos atrás apenas do estranho", disse a co-curadora Jeanne Bornstein. "Tentamos escolher itens que estivessem ligados a algum acontecimento pouco comum da história, mostrassem alguma novidade ou tivessem uma origem notável."
(SÉRGIO DÁVILA)

Na internet: www.nypl.org



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