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Antologia e revista transportam versos de Bonvicino para além-mar
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A enigmática expressão "Lindero Nuevo Vedado" serve de título
para a antologia poética com edição portuguesa que transporta os
versos de Régis Bonvicino, 47, para além-mar.
A ser lançado hoje em São Paulo
-junto com o segundo número
da revista de poesia e cultura "Sibila", da qual Bonvicino é um dos
editores-, o livro tem o título derivado do nome de um bairro da
capital cubana, Havana. A seleção
para esta antologia, feita por Romulo Valle Silvino, abrange versos desde "33 Poemas" (90), passando por "Primeiro Tempo"
(95), que reúne os primeiros textos, da década de 70, até "Céu-Eclipse" (99). Leia a seguir trechos
da entrevista.
Folha - O título da antologia remete à cidade e dá a idéia do fechado, aproximando o urbano e os versos "quase enigmas" que sustentam sua obra. Assim, pode-se ler
sua poesia como uma construção
mitologizante do contemporâneo?
Régis Bonvicino - Estive em Paris
em 95 e lá conheci o músico cubano Carlos Ibanez, que me deixou
seu endereço em Havana: Calle
41, nš 1.658, entre 36 e Lindero
Nuevo Vedado. Nuevo Vedado é
um bairro de Havana. A expressão nunca mais me saiu da cabeça. Atribuí a ela uma capacidade
de síntese das questões do mundo
contemporâneo, políticas, sociais,
poéticas, questões relativas à convergência entre inovação estética
e mudança social, a impossibilidade de inovação. A expressão
evoca também o início de minha
juventude: 1974, faculdade de direito da USP, censura, guerrilhas,
exílios, ao lado das revoluções da
contracultura. Diria que minha
poesia tenta buscar critérios para
um mundo enigmático, desumano, com razões cada vez mais
economicistas. Não creio que minha poesia seja uma construção
mitologizante do contemporâneo, mas a busca real dele.
Folha - Seria possível definir a
função da poesia no mundo hoje?
Bonvicino - Sim. A de descobrir
uma "outra" (não comercial) demanda, sempre. Hoje, falar da
"importância" de João Cabral ou
de Haroldo de Campos é obviedade. Prefiro, por exemplo, falar
de Henriqueta Lisboa ou de Mário Faustino, ou, entre os vivos, de
Hilda Hist. Mas, na verdade, há
uma dissolução da idéia de literário e da própria arte em virtude
da inclusividade extrema que se
lançou numa cultura frágil como
a brasileira. E não há uma base
verdadeiramente letrada no Brasil, como nos EUA. Talvez criar
essa base seja uma das tarefas.
Folha - A realidade que se vive
em São Paulo ou Nova York é a
mesma que se enfrenta em Lisboa?
Bonvicino - Você me faz uma
pergunta curiosa. Leio todos os
dias, nos jornais brasileiros, articulistas norte-americanos e portugueses... Por que, para a poesia
brasileira, seria diferente? A única
expectativa que tenho é a de continuar quieto no meu canto...
LANÇAMENTO DO SEGUNDO
NÚMERO DA REVISTA "SIBILA"
(ATELIÊ EDITORIAL) E DA ANTOLOGIA
"LINDERO NUEVO VEDADO"
(EDIÇÕES QUASI), DE RÉGIS
BONVICINO. Quando: hoje, a partir das
12h. Onde: Espaço MAM Higienópolis
(av. Higienópolis, 698, SP, tel. 0/xx/11/
3823-2912). Quanto: entrada franca.
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