São Paulo, sábado, 29 de junho de 2002

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Antologia e revista transportam versos de Bonvicino para além-mar

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A enigmática expressão "Lindero Nuevo Vedado" serve de título para a antologia poética com edição portuguesa que transporta os versos de Régis Bonvicino, 47, para além-mar.
A ser lançado hoje em São Paulo -junto com o segundo número da revista de poesia e cultura "Sibila", da qual Bonvicino é um dos editores-, o livro tem o título derivado do nome de um bairro da capital cubana, Havana. A seleção para esta antologia, feita por Romulo Valle Silvino, abrange versos desde "33 Poemas" (90), passando por "Primeiro Tempo" (95), que reúne os primeiros textos, da década de 70, até "Céu-Eclipse" (99). Leia a seguir trechos da entrevista.

Folha - O título da antologia remete à cidade e dá a idéia do fechado, aproximando o urbano e os versos "quase enigmas" que sustentam sua obra. Assim, pode-se ler sua poesia como uma construção mitologizante do contemporâneo?
Régis Bonvicino -
Estive em Paris em 95 e lá conheci o músico cubano Carlos Ibanez, que me deixou seu endereço em Havana: Calle 41, nš 1.658, entre 36 e Lindero Nuevo Vedado. Nuevo Vedado é um bairro de Havana. A expressão nunca mais me saiu da cabeça. Atribuí a ela uma capacidade de síntese das questões do mundo contemporâneo, políticas, sociais, poéticas, questões relativas à convergência entre inovação estética e mudança social, a impossibilidade de inovação. A expressão evoca também o início de minha juventude: 1974, faculdade de direito da USP, censura, guerrilhas, exílios, ao lado das revoluções da contracultura. Diria que minha poesia tenta buscar critérios para um mundo enigmático, desumano, com razões cada vez mais economicistas. Não creio que minha poesia seja uma construção mitologizante do contemporâneo, mas a busca real dele.

Folha - Seria possível definir a função da poesia no mundo hoje?
Bonvicino -
Sim. A de descobrir uma "outra" (não comercial) demanda, sempre. Hoje, falar da "importância" de João Cabral ou de Haroldo de Campos é obviedade. Prefiro, por exemplo, falar de Henriqueta Lisboa ou de Mário Faustino, ou, entre os vivos, de Hilda Hist. Mas, na verdade, há uma dissolução da idéia de literário e da própria arte em virtude da inclusividade extrema que se lançou numa cultura frágil como a brasileira. E não há uma base verdadeiramente letrada no Brasil, como nos EUA. Talvez criar essa base seja uma das tarefas.

Folha - A realidade que se vive em São Paulo ou Nova York é a mesma que se enfrenta em Lisboa?
Bonvicino -
Você me faz uma pergunta curiosa. Leio todos os dias, nos jornais brasileiros, articulistas norte-americanos e portugueses... Por que, para a poesia brasileira, seria diferente? A única expectativa que tenho é a de continuar quieto no meu canto...


LANÇAMENTO DO SEGUNDO NÚMERO DA REVISTA "SIBILA" (ATELIÊ EDITORIAL) E DA ANTOLOGIA "LINDERO NUEVO VEDADO" (EDIÇÕES QUASI), DE RÉGIS BONVICINO. Quando: hoje, a partir das 12h. Onde: Espaço MAM Higienópolis (av. Higienópolis, 698, SP, tel. 0/xx/11/ 3823-2912). Quanto: entrada franca.



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