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Osvaldinho recupera samba rural de SP
Aos 66, percussionista comemora 50 anos de carreira com novo álbum, em que destaca identidade paulista do gênero
Músico critica o samba-enredo e diz que os paulistas imitam o padrão dos cariocas, perdendo sua característica "caipira"
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No início dos anos 50, o então
engraxate Osvaldinho passou
muitos fins de semana na delegacia do bairro paulistano do
Tucuruvi, detido por perturbar
os vizinhos com suas batucadas. Nem as pancadas que levava dos policiais diminuíram a
paixão do garoto pelo samba.
"Eles pegavam a gente pelo
pescoço. Íamos apanhando até
a delegacia, mas na semana seguinte estávamos lá de novo,
batucando", conta Osvaldinho
da Cuíca, que hoje, aos 66 anos,
é uma autoridade musical
quando o assunto é samba.
Comemorando 50 anos de
carreira com o lançamento de
um novo CD, o percussionista
ainda se inflama ao constatar
que o samba criado em São
Paulo, nas últimas décadas, já
não é mais o mesmo dos tempos de sua juventude.
"O samba paulista perdeu
sua identidade, praticamente
desapareceu. Hoje ele é feito
nos padrões cariocas, segue o
estilo da Velha Guarda da Portela ou da Mangueira", lamenta
Osvaldinho, que aproveitou seu
disco para resgatar um dos estilos de samba que melhor conservam a essência paulista.
"São Paulo cometeu um crime
contra sua cultura ao deixar de
fazer o samba rural", critica.
Ao lado de diversos convidados, como os cantores Jair Rodrigues, Thobias da Vai-Vai e
Aldo Bueno, além dos grupos
Demônios da Garoa e Quinteto
em Branco e Preto, o percussionista cultiva esse estilo de samba já quase esquecido, em várias faixas do CD "Em Referência ao Samba Paulista", todas
de sua autoria.
Uma de suas fontes de inspiração, revela Osvaldinho, foi o
clássico "A Cuíca Tá Roncando", de Raul Torres. Gravado
originalmente em 1935, pelo
próprio autor, esse foi o primeiro samba paulista que obteve
sucesso no resto do país. "Era
um samba bem rural, bem caipira", relembra ele.
Outro estilo bem característico do samba de São Paulo,
também presente no disco, é o
urbano, do qual os sambas gaiatos de Adoniran Barbosa e Oswaldo Moles foram os melhores representantes.
"Quem quiser saber como
era o samba urbano paulista
precisa ouvir as gravações antigas dos Demônios da Garoa. Eu
participei de muitas delas", ensina Osvaldinho, que integrou o
lendário conjunto de samba em
diversos períodos a partir de
1968. "Aquela batida dos violões, do afoxé e do pandeiro é
meio rural, mas se trata de um
samba urbano por causa da letras, da gozação, daquele negócio de falar errado."
O álbum destaca também um
samba-enredo de Osvaldinho
("75 Anos da Vai-Vai"), que ele
admite ter gravado por insistência do produtor Paulo Félix.
Vencedor de vários carnavais
paulistanos com seus sambas-enredos, hoje o compositor demonstra uma certa antipatia
por esse estilo, que também se
descaracterizou.
"Tem muito samba-enredo
bom, quero deixar claro, mas de
modo geral ele virou marcha. E
eu não aceito que um samba tenha divisão de marcha", rejeita
o veterano sambista.
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