São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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"Há interessados em investir, mas não podemos recebê-los"

Abel Pietro, ministro da Cultura de Cuba, diz que fim de bloqueios aos investimentos internacionais seria solução para situação "deplorável" de instituições

DA ENVIADA A HAVANA

A cidade de Havana tem cerca de 30 salas de teatro, mas, segundo o ator e diretor teatral José Alonso, oito estão fechadas por não terem condições de receber público nem espetáculos. O ministro da Cultura de Cuba, Abel Pietro, que foi assistir ao segundo dia de "Liz" na sala Adolfo Llauradó -sem água nos banheiros, com problemas de iluminação, além de paredes e colunas deterioradas-, diz reconhecer que a situação das instituições é "deplorável". Depois do espetáculo, ele falou à Folha.  

FOLHA - Os principais teatros de Havana estão em péssimas condições, como a sala Adolfo Llauradó, que não tem água nos banheiros, tem problemas de iluminação.
ABEL PIETRO
- Sim, conheço esses problemas. Infelizmente, a situação é lamentável. Ocorre que a economia está muito difícil. Os anos 90 foram desastrosos para Cuba.

FOLHA - Não há como fazer reformas nos espaços?
PIETRO
- Veja, o Teatro Nacional, por exemplo, requer uma reforma urgente, que custará milhões. Milhões que nós não temos. No teatro Brecht, já estamos fazendo uma grande reforma, no García Lorca e em algumas províncias também. Mas não saímos da crise. Estamos melhor do que nos anos 90, mas há que se saber que Cuba é grande importadora de alimentos. A crise mundial nos afeta muito.

FOLHA - O país vive um bom momento de criação?
PIETRO
- Sim, mas temos muitas necessidades. No teatro, por exemplo, há muito público, há um grande momento de criatividade, um grande momento para a cultura cubana, mas as instituições não têm condições de abrigar espetáculos. As instituições estão lamentavelmente em situação de contração. Estão deploráveis. Os recursos são escassos, difíceis. Um dos problemas acaba sendo o de ter muitos talentos e poucas instituições em condições.

FOLHA - O senhor vê soluções?
PIETRO
- A solução passa pela situação econômica, passa por não sofrer esse bloqueio aos investimentos internacionais. Temos muitas pessoas interessadas em investir em Cuba, mas não podemos recebê-las. Os fretes para cá, por exemplo, são muito mais caros do que no mundo todo. Por sorte, ainda posso dizer que o teatro está subvencionado pelo governo. No caso da música, por exemplo, é mais difícil. De qualquer forma, seria um delírio não reconhecer o mercado cultural que nós temos.

FOLHA - O candidato à presidência dos EUA Barack Obama divulgou comunicado em que disse só afrouxar o embargo se Cuba passar por "mudanças significativas".
PIETRO
- Este é um momento em que não se pode prestar muita atenção às declarações. A política dos Estados Unidos está sofrendo a pressão dos grupos cubanos de Miami que ajudaram a fraudar as eleições e deram a presidência a Bush [em 2000]. Esse show da máquina eleitoral norte-americana é deplorável. E ainda acredito muito no que o Fidel disse: "Temos que esperar". Se esperarmos coisas ruins, sempre o que vier será melhor. (AF)


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