Documentário que o Canal Brasil exibe hoje vale pelo depoimento da irmã

DA REPORTAGEM LOCAL

É um filme estranho o documentário "Laerte em Ciclos", que retrata um dos maiores cartunistas brasileiros (e desta Folha), Laerte Coutinho, e que o Canal Brasil exibe hoje. Seu material de divulgação avisa que o filme não tem "a pretensão de ser um documentário sobre a vida e a obra do cartunista". Na abertura, o próprio Laerte diz: "Eu preferia que esse filme tivesse sido feito quando eu estivesse morto. Eu fico muito constrangido".
Bom, o público se pergunta, então, qual o objetivo da obra? Para quem acompanha o artista (em entrevistas, livros, cartuns), ela não traz quase nada de novo, nem no que poderia avançar -por exemplo, em como anda a produção da animação de seus Piratas do Tietê (o diretor do desenho, Otto Guerra, e o próprio Laerte só dão informações vagas).
O filme de Renata Freire é uma grande colagem de depoimentos do próprio artista, de colegas dele como Angeli e Toninho Mendes e de admiradores como os irmãos Fábio Moon e Gabriel Bá. Nada, no entanto, muito novo -"é um sujeito de outro planeta", diz Angeli; "é extremamente culto", afirma Mendes.
O próprio Laerte, declaradamente constrangido, não se abre muito. Há apenas um ponto forte no filme (além de sua curta duração): é a entrevista com Marilia Coutinho, irmã de Laerte.
De sua perspectiva privilegiada, ela oferece alguns insights interessantes sobre o talento e a carreira do irmão. "O Laerte foi o que teve mais talento musical e educação musical", lembra ela, vindos da avó pianista Maria de Freitas. Analisando a "sensibilidade artística difusa" do irmão, ela traz algum interesse ao filme. (MARCO AURÉLIO CANÔNICO)