São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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BIA ABRAMO

"Pantanal" é o triunfo da simplicidade


O que a novela ainda tem de atraente para espectadores menos adestrados pela Globo?

MUITAS imagens aéreas do Pantanal. Rios, corixos, terras alagadas. Vastidão, céu e horizonte. Muito close de bicho -jacaré, tuiuiú, garça. Uns pares de bons atores e uma história, bem, simples. "Pantanal" marcou época como uma novela que conseguiu amedrontar a Globo, mas também como uma tentativa bem-sucedida de empreender uma narrativa fora dos eixos.
Mais lenta, reduzida a elementos dramáticos descomplicados, longe dos cenários habituais -nem o Rio da zona sul ou do subúrbio estilizado, nem o Nordeste genérico e folclórico, nem mesmo a São Paulo da imigração pitoresca-, "Pantanal" se impôs, aos poucos, como uma alternativa de qualidade às novelas da Globo.
Quase 20 anos depois, a história se repete. Depois de mais uma novela das oito da Globo que pretende fazer "a" leitura do Brasil contemporâneo e das estripulias juvenis da Record, há "Pantanal", com suas paisagens reconfortantes.
Quer dizer, se repete com um pouco mais de barulho, é verdade, por conta de uma pendenga judicial entre o SBT, que exibe a novela desde o início do mês de junho, e a Globo, que detém os direitos sobre o texto e as imagens da obra.
O fato é que "Pantanal" deu uma injeção de ânimo na audiência da emissora -o que significa que há muita gente que quer ver ou rever a novela. Os motivos que levam à nostalgia são mais decifráveis -não à toa, a Rede Globo mantém há anos um horário exclusivamente dedicados às reprises de novelas.
Mas, na leva dos dez pontos de Ibope que a trama vem obtendo, certamente há novos espectadores -muito jovens ou muito pobres, ainda fora do mercado de consumo dos televisores, à época da primeira exibição, em 1990.
O que será que "Pantanal" ainda tem de atraente para esses espectadores, menos adestrados pela convenção global? É, de fato, uma pergunta que a coluna faz.
O que dá para arriscar, num nível puramente hipotético, é atribuir a esse público "novo", formado nesse hiato entre a primeira e a quarta exibição (a Manchete transmitiu outras duas reprises), uma preferência pela diversidade e pela novidade -mesmo que uma já entrada em anos.
E, de resto, "Pantanal", ontem ou hoje, acertou o passo ralentando-o, escandindo as cenas -até, na verdade, o ponto da saturação- e interiorizando o Brasil. Continua funcionando a opção por uma história mais simples, de gente mais simples e ancorada no espetacular cenário das terras alagadas do interior do Mato Grosso.

biabramo.tv@uol.com.br


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