São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coletânea de Dahmer ironiza a solidão

Em "A Cabeça É a Ilha", quadrinista carioca diz que lança mão de visão caricata para "bater na sociedade"

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O mundo é duro. Dito isso, nada impede que se possa rir dele. É isso que faz o carioca André Dahmer, que ficou conhecido com os quadrinhos "Malvados" e que agora lança "A Cabeça É a Ilha". O livro coleta tiras que abordam a solidão, a timidez e a carência do ser humano -e consegue criar humor em cima desses temas. "Venho tratando com ironia essa dureza do mundo", afirma Dahmer. "O livro não é uma apologia da solidão, mas uma crítica da solidão." "A Cabeça É a Ilha" é uma coletânea de tiras. Algumas não têm personagens fixos, mas outras contam com tipos como Ulisses ou Sara, a Sofrida. Ulisses foi abandonado por sua amada Rebeca e faz de tudo para esquecê-la -inclusive roubar um barco com 10 mil garrafas de vinho e passar meses distante da sociedade. Sara, a Sofrida, por sua vez, é uma mulher que se julga feia, velha, desinteressante e abandonada. São pessoas que, como diz Dahmer, "vivem na cidade e não têm ninguém naquele formigueiro de gente". "Acho que é um livro que fala de timidez. Não sou exatamente tímido ou solitário, mas sei o que é porque todo mundo tem um pouco isso de se sentir sozinho", diz o quadrinista. "Solidão está além de ser casado ou não, de ter pai ou mãe." Algumas tiras do autor trazem o humor pelo humor, mas outras fazem críticas à sociedade, como a série "Encontro Anual dos Donos do Mundo", em que homens poderosos, insensíveis e cruéis comentam sua superioridade enquanto descobrem novas maneiras de subjugar e humilhar as pessoas humildes, inocentes ou simplesmente boas. "É a minha chance de bater na sociedade", afirma Dahmer. "Na maioria das vezes, é uma visão caricata, porque é humor. Não é uma verdade absoluta, mas uma exacerbação dos defeitos", completa. Algumas tiras abordam temas tabus, especialmente para histórias de humor, como pedofilia e câncer. "Nem penso se isso vai chocar", conta Dahmer ao ser questionado se há limites para os assuntos nas suas HQs. "Sei o que está de bom tom na minha cabeça. Estamos em um país livre para, dentro da arte, você fazer o que quiser. Não faço quadrinhos para mudar o mundo e arrisco dizer que é um exercício de expressão." O autor refuta os rótulos de "humor negro" e "ácido" para suas histórias em quadrinhos. "Não quero rótulo algum. Não faço quadrinhos de costume ou humor político. Acho que isso de rotular limita", afirma.


A CABEÇA É A ILHA

Autor: André Dahmer
Editora: Desiderata
Quanto: R$ 34,90 (152 páginas)




Texto Anterior: Crítica: "O Signo da Cidade" tem ideias melhores que o filme
Próximo Texto: Luiz Felipe Pondé: O cálice
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.