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Coletânea de Dahmer ironiza a solidão
Em "A Cabeça É a Ilha", quadrinista carioca diz que lança mão de visão caricata para "bater na sociedade"
PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O mundo é duro. Dito isso,
nada impede que se possa rir
dele. É isso que faz o carioca
André Dahmer, que ficou conhecido com os quadrinhos
"Malvados" e que agora lança
"A Cabeça É a Ilha". O livro coleta tiras que abordam a solidão, a timidez e a carência do
ser humano -e consegue criar
humor em cima desses temas.
"Venho tratando com ironia
essa dureza do mundo", afirma
Dahmer. "O livro não é uma
apologia da solidão, mas uma
crítica da solidão."
"A Cabeça É a Ilha" é uma coletânea de tiras. Algumas não
têm personagens fixos, mas outras contam com tipos como
Ulisses ou Sara, a Sofrida. Ulisses foi abandonado por sua
amada Rebeca e faz de tudo para esquecê-la -inclusive roubar um barco com 10 mil garrafas de vinho e passar meses
distante da sociedade.
Sara, a Sofrida, por sua vez, é
uma mulher que se julga feia,
velha, desinteressante e abandonada. São pessoas que, como
diz Dahmer, "vivem na cidade e
não têm ninguém naquele formigueiro de gente".
"Acho que é um livro que fala
de timidez. Não sou exatamente tímido ou solitário, mas sei o
que é porque todo mundo tem
um pouco isso de se sentir sozinho", diz o quadrinista. "Solidão está além de ser casado ou
não, de ter pai ou mãe."
Algumas tiras do autor trazem o humor pelo humor, mas
outras fazem críticas à sociedade, como a série "Encontro
Anual dos Donos do Mundo",
em que homens poderosos,
insensíveis e cruéis comentam
sua superioridade enquanto
descobrem novas maneiras
de subjugar e humilhar as pessoas humildes, inocentes ou
simplesmente boas.
"É a minha chance de bater
na sociedade", afirma Dahmer.
"Na maioria das vezes, é uma
visão caricata, porque é humor.
Não é uma verdade absoluta,
mas uma exacerbação dos
defeitos", completa.
Algumas tiras abordam temas tabus, especialmente para
histórias de humor, como pedofilia e câncer. "Nem penso se
isso vai chocar", conta Dahmer
ao ser questionado se há limites
para os assuntos nas suas HQs.
"Sei o que está de bom tom na
minha cabeça. Estamos em um
país livre para, dentro da arte,
você fazer o que quiser. Não faço quadrinhos para mudar o
mundo e arrisco dizer que é um
exercício de expressão."
O autor refuta os rótulos de
"humor negro" e "ácido" para
suas histórias em quadrinhos.
"Não quero rótulo algum. Não
faço quadrinhos de costume ou
humor político. Acho que isso
de rotular limita", afirma.
A CABEÇA É A ILHA
Autor: André Dahmer
Editora: Desiderata
Quanto: R$ 34,90 (152 páginas)
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