|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ceará vê filmes excluídos do circuito
Produção latino-americana inscrita no festival nordestino é volumosa, mas continua pouco vista pelos países vizinhos
Prêmios e o sistema digital favorecem os projetos, mas a exibição é tida como um problema pelos cineastas, que reclamam mais espaço
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA
Fortaleza é o 11º porto no
qual "Alamar" atraca. O filme mexicano viajou, no último ano, por dez festivais do
mundo. De todos, saiu com
algum prêmio. Na terra natal, ainda não conseguiu distribuição.
Francisco Lombardi veio a
Fortaleza receber um troféu
pelo conjunto de sua obra.
Sem perder a polidez, admite
sentir-se um tanto desconcertado com a homenagem.
Sabe que, de seus 17 longas-metragens, apenas "Pantaleão e as Visitadoras" é conhecido dos brasileiros.
O Cine Ceará, que chega à
20ª edição com o aposto "ibero-americano" pregado a seu
nome, é espelho e consequência de um fenômeno
que o circuito exibidor torna
idêntico em toda a América
Latina: não fossem os festivais, boa parte da produção
seria quase fantasma.
DIGITAL
Graças ao digital e à boa
acolhida internacional não
só dos filmes argentinos, mas
também de brasileiros como
"Central do Brasil" e "Cidade
de Deus", o cinema latino-americano entrou nos anos
2000 com o moral em alta.
"Nunca tivemos tantos jovens latinos produzindo",
diz Manuel Carranza, diretor
de som e produtor de "Alamar". Ele diz que "o digital
permite, pelo menos, dar o
primeiro passo para encaminhar o projeto".
Mas é pedregoso o caminho entre esse primeiro passo e a sala de exibição.
"Uma coisa é filmar, outra
é concluir um filme e colocá-lo no mercado em condições
razoáveis", diz o cubano Daniel Díaz, professor da escola
de Santo Antonio de Los Baños, presente no Cine Ceará
com "Lizanka".
A compensar a estreiteza
do funil mercadológico surgem os festivais. Só no Brasil,
há mais de 200.
Na América Latina, os
mais importantes são os de
Guadalajara, Havana e Buenos Aires. Equador, Guatemala e Peru também têm festivais voltados, exclusivamente, à produção regional.
"A luta por filmes inéditos
num festival é uma epopeia",
diz Wolney de Oliveira, diretor do Cine Ceará. Foi para
distinguir-se que ele decidiu,
em 2006, transformar o seu
em ibero-americano.
Este ano, foram 109 filmes
inscritos -65 deles brasileiros. Apenas nove foram selecionados para a mostra competitiva, que se encerra na
próxima quinta-feira.
"Acompanho a produção
latina porque vou a festivais", afirma Lombardi, organizador do festival de Lima. "O cinema que menos
conheço é o brasileiro. Talvez
seja pelo idioma, não sei."
A segunda vitrine mais importante para a produção latina é a pirataria. "Isso não é
motivo de orgulho, mas é assim", ri Lombardi.
Foi nesse circuito que desconhece o copyright que
"Central do Brasil", "Cidade
de Deus" e "Tropa de Elite"
fizeram sucesso, por exemplo, em Cuba.
"Mas sucesso mesmo fazem as novelas", diz Díaz.
"Só se fala em "A Favorita'".
Já no Cine Ceará, sucesso
mesmo têm feito os jogos da
Copa do mundo.
A jornalista ANA PAULA SOUSA viajou a
convite do Cine Ceará
Texto Anterior: Bowie e Smiths se consagraram no festival Próximo Texto: Análise: Minimalismo vira moda entre diretores como reação à estética de Hollywood Índice
|