São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2010

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Ceará vê filmes excluídos do circuito

Produção latino-americana inscrita no festival nordestino é volumosa, mas continua pouco vista pelos países vizinhos

Prêmios e o sistema digital favorecem os projetos, mas a exibição é tida como um problema pelos cineastas, que reclamam mais espaço

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA

Fortaleza é o 11º porto no qual "Alamar" atraca. O filme mexicano viajou, no último ano, por dez festivais do mundo. De todos, saiu com algum prêmio. Na terra natal, ainda não conseguiu distribuição. Francisco Lombardi veio a Fortaleza receber um troféu pelo conjunto de sua obra.
Sem perder a polidez, admite sentir-se um tanto desconcertado com a homenagem. Sabe que, de seus 17 longas-metragens, apenas "Pantaleão e as Visitadoras" é conhecido dos brasileiros.
O Cine Ceará, que chega à 20ª edição com o aposto "ibero-americano" pregado a seu nome, é espelho e consequência de um fenômeno que o circuito exibidor torna idêntico em toda a América Latina: não fossem os festivais, boa parte da produção seria quase fantasma.

DIGITAL
Graças ao digital e à boa acolhida internacional não só dos filmes argentinos, mas também de brasileiros como "Central do Brasil" e "Cidade de Deus", o cinema latino-americano entrou nos anos 2000 com o moral em alta.
"Nunca tivemos tantos jovens latinos produzindo", diz Manuel Carranza, diretor de som e produtor de "Alamar". Ele diz que "o digital permite, pelo menos, dar o primeiro passo para encaminhar o projeto".
Mas é pedregoso o caminho entre esse primeiro passo e a sala de exibição. "Uma coisa é filmar, outra é concluir um filme e colocá-lo no mercado em condições razoáveis", diz o cubano Daniel Díaz, professor da escola de Santo Antonio de Los Baños, presente no Cine Ceará com "Lizanka".
A compensar a estreiteza do funil mercadológico surgem os festivais. Só no Brasil, há mais de 200.
Na América Latina, os mais importantes são os de Guadalajara, Havana e Buenos Aires. Equador, Guatemala e Peru também têm festivais voltados, exclusivamente, à produção regional.
"A luta por filmes inéditos num festival é uma epopeia", diz Wolney de Oliveira, diretor do Cine Ceará. Foi para distinguir-se que ele decidiu, em 2006, transformar o seu em ibero-americano.
Este ano, foram 109 filmes inscritos -65 deles brasileiros. Apenas nove foram selecionados para a mostra competitiva, que se encerra na próxima quinta-feira.
"Acompanho a produção latina porque vou a festivais", afirma Lombardi, organizador do festival de Lima. "O cinema que menos conheço é o brasileiro. Talvez seja pelo idioma, não sei."
A segunda vitrine mais importante para a produção latina é a pirataria. "Isso não é motivo de orgulho, mas é assim", ri Lombardi. Foi nesse circuito que desconhece o copyright que "Central do Brasil", "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite" fizeram sucesso, por exemplo, em Cuba.
"Mas sucesso mesmo fazem as novelas", diz Díaz. "Só se fala em "A Favorita'".
Já no Cine Ceará, sucesso mesmo têm feito os jogos da Copa do mundo.

A jornalista ANA PAULA SOUSA viajou a convite do Cine Ceará


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