São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2010

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ANÁLISE

Minimalismo vira moda entre diretores como reação à estética de Hollywood

DA ENVIADA A FORTALEZA

Não há edição de um festival importante, como Cannes e Berlim, que, nos anos recentes, não tenha ao menos um filme latino-americano na seleção.
E são geralmente esses filmes que chegam até nós. Para ficar no caso do país do diretor homenageado no Cine Ceará, Francisco Lombardi, basta pinçar "A Teta Assustada", raro filme peruano aqui lançado.
E por quê? Porque ganhou o Urso de Ouro em Berlim. O mesmo deve acontecer com seu conterrâneo "Outubro", que saiu de Cannes, este ano, com um prêmio.
Há, ainda, os filmes dos diretores que, a despeito da origem latina, tornaram-se nomes internacionais, como o brasileiro Fernando Meirelles e o argentino Juan José Campanella.
Isso sem falar nos mexicanos que viraram quase hollywoodianos, como Alfonso Cuarón, que fez "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban", e Alejandro Gonzalez Iñarritu, de "Babel".
São, no entanto, muito diferentes disso tudo os filmes que um festival como o Cine Ceará seleciona.

SEM AÇÃO
"Alamar", do mexicano Pedro González Rúbio, incorpora à narrativa o tempo da natureza, dos mergulhadores que vão ao fundo do mar.
Também lento e afeito à contemplação é "Do Amor e Outros Demônios", produção da Costa Rica e da Colômbia baseada no livro de Gabriel García Márquez, dirigido por Hilda Hidalgo.
Sem referir-se a filmes específicos, o cubano Daniel Díaz diz notar, na produção latina feita à margem do mercado, uma retórica da poesia.
"Fala-se em minimalismo, mas a verdade é que, às vezes, não acontece nada no filme. Alguns diretores deixam o personagem 10 minutos olhando o horizonte", exemplifica.
O gosto talvez exagerado pelo minimalismo tampouco passa despercebido por Lombardi. "Parece que alguns diretores reproduzem, nos filmes, o individualismo da sociedade. Fazem filmes para si, não para o público."
É inegável que essa tentativa radical de reação à estética de Hollywood acaba, por vezes, espantando o público.
Díaz, com "Lizanka", é um dos que, como fazem os argentinos Daniel Burman ("Ninho Vazio") e Pablo Trapero ("Leonera"), busca o meio do caminho entre o experimental e o blockbuster.

COM IDEOLOGIA
A despeito das diferenças estéticas e de gênero, há algo a unir quase toda a produção latino-americana, seja a que chega ao Cine Ceará, seja a que vai a Cannes: uma pegada social.
São raros os filmes pelos quais não escorre algo de político, de ideológico até. É como se houvesse sempre, por trás da câmera, um desejo de se fazer visto. E de se ver.
(APS)


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