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ANÁLISE
Minimalismo vira moda entre diretores como reação à estética de Hollywood
DA ENVIADA A FORTALEZA
Não há edição de um festival importante, como Cannes
e Berlim, que, nos anos recentes, não tenha ao menos
um filme latino-americano
na seleção.
E são geralmente esses filmes que chegam até nós. Para ficar no caso do país do diretor homenageado no Cine
Ceará, Francisco Lombardi,
basta pinçar "A Teta Assustada", raro filme peruano aqui
lançado.
E por quê? Porque ganhou
o Urso de Ouro em Berlim. O
mesmo deve acontecer com
seu conterrâneo "Outubro",
que saiu de Cannes, este ano,
com um prêmio.
Há, ainda, os filmes dos diretores que, a despeito da origem latina, tornaram-se nomes internacionais, como o
brasileiro Fernando Meirelles e o argentino Juan José
Campanella.
Isso sem falar nos mexicanos que viraram quase hollywoodianos, como Alfonso
Cuarón, que fez "Harry Potter
e o Prisioneiro de Azkaban",
e Alejandro Gonzalez Iñarritu, de "Babel".
São, no entanto, muito diferentes disso tudo os filmes
que um festival como o Cine
Ceará seleciona.
SEM AÇÃO
"Alamar", do mexicano
Pedro González Rúbio, incorpora à narrativa o tempo da
natureza, dos mergulhadores que vão ao fundo do mar.
Também lento e afeito à
contemplação é "Do Amor e
Outros Demônios", produção da Costa Rica e da Colômbia baseada no livro de Gabriel García Márquez, dirigido por Hilda Hidalgo.
Sem referir-se a filmes específicos, o cubano Daniel
Díaz diz notar, na produção
latina feita à margem do mercado, uma retórica da poesia.
"Fala-se em minimalismo,
mas a verdade é que, às vezes, não acontece nada no filme. Alguns diretores deixam
o personagem 10 minutos
olhando o horizonte", exemplifica.
O gosto talvez exagerado
pelo minimalismo tampouco
passa despercebido por Lombardi. "Parece que alguns diretores reproduzem, nos filmes, o individualismo da sociedade. Fazem filmes para
si, não para o público."
É inegável que essa tentativa radical de reação à estética de Hollywood acaba, por
vezes, espantando o público.
Díaz, com "Lizanka", é um
dos que, como fazem os argentinos Daniel Burman
("Ninho Vazio") e Pablo Trapero ("Leonera"), busca o
meio do caminho entre o experimental e o blockbuster.
COM IDEOLOGIA
A despeito das diferenças
estéticas e de gênero, há algo
a unir quase toda a produção
latino-americana, seja a que
chega ao Cine Ceará, seja a
que vai a Cannes: uma pegada social.
São raros os filmes pelos
quais não escorre algo de político, de ideológico até. É como se houvesse sempre, por
trás da câmera, um desejo de
se fazer visto. E de se ver.
(APS)
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