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LIVROS
Kotscho lembra 40 anos de Brasil em memórias
Jornalista fala da carreira e de amigos na autobiografia "Do Golpe ao Planalto"
Autor escreveu posfácio
para comentar crise política
causada pelas denúncias de
corrupção que abalaram o
governo de seu amigo Lula
DA REPORTAGEM LOCAL
"Uma declaração de amor à
profissão, ao jornalismo e,
principalmente, à reportagem." Assim o premiado jornalista Ricardo Kotscho, 58, define a mensagem que pretende
passar com a publicação de seu
novo livro, "Do Golpe ao Planalto - Uma Vida de Repórter",
pela Companhia das Letras.
O livro será lançado nesta segunda-feira, em São Paulo. Em
pouco mais de 350 páginas, são
percorridos 40 anos da carreira
de Kotscho. Desde o tempo de
"foca" no "Estado de S.Paulo" e
onde era chamado de Ricardinho pelo então chefe, Clóvis
Rossi (hoje colunista da Folha), até sua despedida, no Palácio do Planalto, do cargo de
secretário de imprensa da Presidência, no final de 2004.
Em entrevista à Folha, Kotscho diz acreditar, "sinceramente", que o jornalismo seja a
"melhor profissão do mundo".
Principalmente se o trabalho
de repórter tiver conseqüências. Do início dos anos 80,
Kotscho relembra o caso de dezenas de pessoas que apareceram para ajudar um casal no
ABC paulista depois que uma
de suas reportagens, publicada
na Folha, mostrou a agonia
causada pelo desemprego.
Três dias atrás, na quarta-feira, Kotscho recebeu a notícia de que outra reportagem
sua, recém-publicada em São
Paulo e no Rio, desencadeou
uma ação que levou à prisão de
22 pessoas suspeitas de envolvimento com tráfico de drogas
e assassinatos em Minas.
Tendo o pano de fundo dos
últimos 40 anos da história do
Brasil, o livro é um emaranhado de memórias, viagens, amigos e empregos do jornalista.
"Escrever livro de memórias
é fogo. Você passa a vida inteira
juntando histórias. Quando
chega a hora de escrever, a memória já não ajuda. E, quando
você é jovem e tem a memória
boa, não tem histórias para
contar", diz Kotscho.
Embora já tenha outros 15 livros publicados, o jornalista
afirma que "Do Golpe ao Planalto" é o primeiro escrito
"profissionalmente". "No final,
aprendi que escrever um livro é
basicamente reescrever e cortar palavras."
Posfácio e mensalão
Kotscho levou um ano para
terminar o livro, de dezembro
de 2004 a dezembro do ano
passado. Depois de pronto, se
viu obrigado a escrever um posfácio para comentar a crise política causada pelas denúncias
de corrupção que abalaram o
governo de seu amigo de mais
de 30 anos, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Kotscho e Lula se conheceram quando o petista era sindicalista no ABC paulista. Na
campanha eleitoral de 2002,
Kotscho voltou a trabalhar na
área de imprensa com o então
candidato. Após a vitória, sua
ida para a Secretaria de Imprensa do Planalto aconteceu
quase que por "osmose".
Sobre a crise do mensalão,
que eclodiu pouco meses depois de deixar o Planalto, Kotscho hoje afirma: "Convivi dois
anos dentro do governo e nunca ouvi falar de mensalão. Fiquei chocado quando isso começou a sair no noticiário. Eu
não conseguia nem entender".
Pessoalmente, acredita que
houve o mensalão? "Acho que
houve essa coisa de dinheiro de
partido, que tem a ver com a
campanha de 2004. Mas não
acredito que saíram distribuindo dinheiro, um monte de gente recebendo, com sacolas circulando. Não estou dizendo
que não houve, mas não consigo entender."
Para o jornalista, "é difícil
avaliar" a responsabilidade do
presidente Lula na crise. "Ainda vai levar um bom tempo para uma avaliação fria. A minha
nunca será fria, pois participei
do governo e sou amigo e muito
próximo de Lula. É uma amizade de mais de 30 anos", diz.
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